Depois de alguns meses de trabalho, chegou à nova casa de caridade um fiscal mandado pela prefeitura, com novas cobranças. Pediam a mudança da casa, porque aquele bairro era de classe rica e, depois do inÃcio das atividades, a rua vivia cheia de mendigos e gente maltrapilha. A vizinhança tinha medo de ser assaltada, além do risco de proliferação de doenças que só os pobres tinham. XPZ4 contestou na justiça, dizendo que tal cobrança era ilegal. Apelou para as leis quase inexistentes em favor dos mais necessitados. A questão rolou por vários meses, até que conseguiu ganhar a causa, através da interferência da CGU, com a qual Artúrio tinha um documento assinado onde se impunha a aceitação das decisões da mesma, depois de ouvida uma assembleia composta pelos governos de dez planetas da nebulosa Olho de Gato.
XPZ4 nunca perdia a oportunidade de divulgar o Evangelho, falando de amor e de caridade. Sua nova vida, seus novos ideais incomodavam muita gente. Por mais que fizesse, sempre se arranjava alguma desculpa para fazê-lo pagar novas taxas, fazer correções estruturais na casa, diminuir barulhos, etc.
MSTJ, sabendo que o nosso astronauta havia deixado a carreira e se dedicado ao trabalho do Cristo, resolveu invadir o planeta de XPZ4, pois o imaginava mais vulnerável. Em um dia de grande festividade, onde se comemorava o Dia Nacional, MSTJ entrou com suas naves e soldados na capital do paÃs de XPZ4 e pegou todos despreparados. Apesar de serem inimigos, ambos se respeitavam, pois tinham um material bélico semelhante e sabiam que as batalhas seriam no mesmo nÃvel. Não esperavam que MSTJ tivesse uma atitude tão ousada. EdifÃcios foram destruÃdos, centrais elétricas e telefônicas atingidas, materiais bélicos roubados, quartéis invadidos, a sede do governo cercada, e o paÃs virou um caos. Outras regiões do planeta também foram invadidas. XPZ4 foi imediatamente convocado para participar da defesa improvisada. E a Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré ficou aos cuidados de irmãos dedicados e mulheres piedosas.
As lutas foram árduas e MSTJ chegou a entrar na sede do governo e anunciar o fim do governo de AST8, estabelecendo seu próprio governo.
Em rede nacional, dirigiu-se ao povo:
— A partir de hoje este planeta passa a ter novas regras de vida, novas leis passam a fazer parte do dia a dia dos cidadãos. Total intolerância à desobediência. Este planeta está sob as ordens de MSTJ, da nebulosa da Tarântula. Boa noite!
O povo rebelde resolveu protestar. Na principal praça da cidade, manifestantes tentaram incendiar o prédio do governo. Confrontos com a polÃcia de MSTJ foram travados e muitos perderam suas vidas. No dia seguinte, tentaram sequestrar o novo governante, mas sem sucesso. Bombas de gás paralisante eram lançadas pelos soldados de MSTJ, e as pessoas morriam congeladas pelo frio ou pelas muitas horas sem alimentar-se.
AST8 pediu ajuda à CGU, que imediatamente mandou soldados e armas. Novas batalhas e muita gente perdendo parentes ou ficando mutilada. A Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré foi parcialmente destruÃda. Não existiam programas de governo para ajuda à s casas beneficentes, e XPZ4 pediu ajuda material à CGU. Pelos seus méritos como astronauta, conseguiu auxÃlio, e assim pôde continuar prestando assistência e reconstruir as alas danificadas. O governante de Saturno mandou ajuda a ele e algumas naves chegaram carregadas de alimentos, roupas e remédios. Algumas foram interceptadas por MSTJ. E pela primeira vez viu-se a solidariedade naquele planeta. Algumas pessoas ligadas à construção civil participaram da reconstrução da casa. Médicos e todo tipo de profissionais da saúde ofereciam-se para dar alguma contribuição, ajudando a cuidar dos doentes, e outros para serviços de limpeza.
A luta durou vários meses, até que AST8 conseguiu retomar o governo e expulsar MSTJ.
Passado o susto, era hora de julgar os acontecimentos e arranjar um “culpado†para o acontecido. E a culpa caiu sobre XPZ4. Mais do que nunca, sua baixa como militar astronauta pesou na consideração e na avaliação de todo o planeta. A destruição feita por MSTJ foi considerada uma falta de amor à pátria, e XPZ4 foi encarcerado. Pela falta de amor e de todos os conhecimentos contidos no Evangelho de Jesus, ninguém se lembrava de tantos necessitados já recolhidos das ruas, de tantas mulheres e crianças abrigadas e de tantos homens chefes de famÃlia que conseguiram emprego através dos cursos profissionalizantes feitos na Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré. Agora XPZ4 era culpado por toda a destruição, e por isso deveria ser julgado e condenado. Eram as perseguições sobre as quais Jesus havia dito, por que passariam aqueles que O quisessem seguir. E nosso astronauta estava pronto para dar seu testemunho.
Com atitude serena, aguardou o dia do julgamento e foi condenado a vários anos de prisão. Nosso astronauta só pensava na sua casa de caridade, na sua famÃlia e no que poderia advir com a perseguição movida contra ele sobre seus protegidos. Lembrava-se das perseguições pelas quais passavam os cristãos, movidas pelo Império Romano ou pelos fariseus.
Durante esse perÃodo, seu filho desencarna e sua esposa passa a morar na Fraternidade, ajudando mais de perto nos trabalhos da casa. Torna-se um exemplo de fé e dedicação. Seu coração maternal recebe e ama a todos. Continuam os labores da assistência prestada aos necessitados, as reuniões para estudos do Evangelho, e a casa começa a receber a visita de um Irmão iluminado do Plano Superior. Os corações enchem-se de novas esperanças. O Irmão Fábio passa a manifestar-se nas reuniões de estudos do Evangelho, orientando e transmitindo mensagens de otimismo e paciência. As mensagens psicografadas passam a fazer parte da rotina dos trabalhos, e o interesse cresce cada vez mais.
AST8, vendo as falhas de sua forma de governo, que faziam crescer o número de necessitados materiais e incapacitados psicológicos e emocionais, por inveja e despeito ao trabalho desenvolvido pela Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré, julgou que poderia cobrar a liberação destas atividades de assistência aos necessitados e determinou se fizesse o pagamento de taxas de serviços religiosos, passando a Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré a arcar com mais tributos. Taxas sobre o inimaginável passaram a ser cobradas.
Além do Irmão Fábio, passou a manifestar-se o Dr. Abreu, médico que havia vivido sua última encarnação em Canopus e que, através da mediunidade de JNP5, realizava cirurgias espirituais. JNP5, biólogo e bioquÃmico, além de fiel seguidor da moral cristã, era um instrumento maleável e muito útil nas mãos do Dr. Abreu, que receitava medicamentos fitoterápicos nas reuniões de tratamento da saúde. CNL6, então com a ajuda de JNP5, aproveitou o terreno da casa onde funcionava a Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré para plantar espécies medicinais, com o fim de preparar os remédios receitados pelo Dr. Abreu. As indústrias farmacêuticas manifestaram-se contra, mas nada conseguiram fazer para coibir o preparo dos remédios. Contudo, o episódio trouxe alguns dissabores e dificuldades a CNL6 e JNP5.
Porém, os trabalhos, a ajuda aos necessitados não podiam parar. Através da psicografia de CNL6, o Irmão Fábio escrevia páginas maravilhosas de consolação, romances e livros de autoajuda. Foi então necessário organizar-se uma editora. Nenhuma das existentes no planeta quis assumir a edição dos livros psicografados, pois não queriam publicar obras de EspÃritos, com medo de abalar a consideração e o nome que tinham perante o público leitor. E nasceu a Editora Intergaláctica Olho de Gato. Editados os primeiros livros, a venda foi espantosa. Interessados nos livros psicografados, religiosos de Júpiter, Capela e de outros planetas onde o bem imperava passaram a comprar os livros do Irmão Fábio. A nova doutrina trazida por XPZ4 começava a desabrochar e a irritar cada vez mais ao seu governante supremo, que perdia sua hegemonia para um carpinteiro obscuro de um planeta atrasado. Porém, as necessidades também eram enormes. Chegavam necessitados de todas as partes de Artúrio, e os recursos materiais eram pequenos, apesar da venda dos livros psicografados por CNL6. Desse modo, muitas campanhas de arrecadação de dinheiro foram encetadas, almoços, passeios a lugares pitorescos do planeta e até uma visita à Terra, para conhecer uma das igrejas fundadas pelo Apóstolo Paulo e escutar sua palavra inflamada de fé, além dos lugares por onde passou Jesus.
AST8 não gostava das visitas constantes de religiosos de outros planetas para adquirir os livros psicografados por CNL6 e, num dia em que chegaram visitas de Titã, recebeu-os a disparos de armas paralisantes. Os visitantes, despreparados, não carregavam armas consigo, pois sua visita era de paz. Presos e julgados invasores, tiveram que pagar altos tributos para que fossem liberados. Diziam eles a AST8:
— Senhor, nossa visita é de paz. Viemos somente em busca dos livros psicografados.
— São invasores. Não pediram permissão – disse AST8.
— Permissão para comprar livros? O acordo intergaláctico prevê o intercâmbio cultural entre os planetas e o livre comércio.
— Estes livros não fazem parte da nossa literatura.
— Senhor AST8, nós viemos apenas adquirir os livros que nos esclarecem e consolam e falam dos ensinamentos de Jesus, que é nosso maior modelo e guia.
— Sempre este Jesus em meu caminho. Não gosto disso. Para serem liberados, deverão pagar tributos.
— Jesus sempre nos chama à renovação de nosso caminho e nossa conduta – respondeu o visitante.
— Não vou tolerar que me fale desta maneira. Nunca vou admitir que um terráqueo me venha ensinar coisa alguma. A Terra é muito mais atrasada que muitos planetas que já conquistamos. Exijo respeito.
— Jesus não é um simples terráqueo. É o governador de toda a galáxia.
— Pois bem, chega de conversa. Paguem o tributo e serão liberados, e nunca mais me apareçam aqui, porque da próxima vez não serão poupados – disse AST8, furioso.
A falta de ensino religioso nas escolas fazia dos habitantes presas fáceis da criminalidade, da obsessão e do suicÃdio. Existiam correntes religiosas diversas que pregavam o bem, mas nenhuma com a espiritualidade dos ensinos de Jesus. CNL6, julgando a necessidade da mudança de conduta dos habitantes e com a aquiescência de XPZ4, abre uma escola para crianças de 2 a 10 anos para o ensino das letras, mas também com aulas de religião. Nesta escola eram ensinados os princÃpios de todas as religiões do planeta, dos ensinamentos do Cristo, mas deixava-se que os pais escolhessem qual delas seria ensinada aos filhos. Começou-se também um trabalho semelhante junto aos detentos nas penitenciárias, com o intuito de ajudar na reformulação do caráter dos mesmos. Através de polÃticos já reformados pelo Evangelho de Jesus, conseguiu-se a aprovação da lei que permitia tal serviço aos detentos. Eram ensinados os princÃpios das religiões existentes no planeta e também eram ensinados os princÃpios do Evangelho, e deixava-se ao detento o direito de escolher se queria aprofundar-se e em qual deles. Quando terminavam de cumprir a pena, a Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré os recebia para frequentarem cursos profissionalizantes e posteriormente conseguirem emprego. Começou-se então a perceber que a Fraternidade prestava uma ajuda inestimável à sociedade. Surgiram outros núcleos de atividade cristã.
Todo o dinheiro da venda dos livros e dos medicamentos era revertida para cobrir os gastos da casa. A ideia de uma visita à Terra não havia morrido e começou-se a pensar como fazê-la. Escolher-se-ia o vencedor através de sorteio pela compra de livros, ocasião em que seriam dados cupons conforme a quantidade de livros comprados. AST8 comprou vários deles, pois sentia-se no direito de ser o vencedor, já que era o supremo mandatário do planeta, mas não queria que sua vitória parecesse falcatrua.Â
Começaram-se então os preparativos para a viagem. AST8 teve a ideia de ir com XPZ4, que, por conhecer a Terra, estava apto a levar as pessoas aos lugares onde possivelmente encontrariam Paulo. E nosso astronauta, com a permissão de AST8 e escoltado por vários soldados, embarcou na nave que os levaria à Terra.