Logo após a chegada ao planeta, foram à igreja de Antioquia. Saudado por Barnabé, XPZ4 foi informado de que o Apóstolo deveria chegar em poucos dias.
Durante este período, todos aproveitaram para conhecer um pouco dos trabalhos desenvolvidos na igreja. Alguns companheiros de viagem, já acostumados com os trabalhos na Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré, se engajaram nas tarefas, o que agradou muito a Barnabé.
Paulo chegou de viagem e no dia seguinte fez sua preleção para os presentes na igreja, após terminar de escrever uma de suas epístolas.
Com grande surpresa, AST8 ouviu a palavra de Paulo, que caía em sua alma como um remédio salutar. Atrás de toda aquela dureza de coração, escondia-se um homem possuído pelo medo e pela solidão. Porém, AST8 não queria entregar-se aos braços de Jesus e procurava resistir, invocando seus tempos de maldade e dureza de coração. Paulo falou do Cristo com uma inspiração maior e arrancou lágrimas de todos, curou enfermos e abraçou a todos os presentes.
Joanna de Ângelis diz que quem conhece o Cristo nunca mais será o mesmo, e AST8 estava se modificando. A cada minuto que passava ruía o homem velho e nascia o homem novo, mas tinha muito o que modificar. O orgulho, o egoísmo, a teimosia e a falta de misericórdia tinham que ser muito trabalhados pelo remédio da dor e do arrependimento. E este remédio estava reservado a AST8 pela misericórdia do Cristo...
Após a palestra de Paulo, o grupo decidiu conhecer Jerusalém, a Casa do Caminho e Roma e suas catacumbas.
No dia imediato, chegaram a Jerusalém e foram recebidos pelo Apóstolo Pedro. A conversa durou horas e doces foram os momentos passados com Jesus através dos relatos do Apóstolo, que recordava as passagens vividas com o Mestre, que eram a maior relíquia de sua vida.
Em dado momento, chega à casa um oficial:
— Viemos por ordem do sacerdote inspecionar a casa – disse o oficial.
Nossos amigos da nebulosa Olho de Gato ficaram apavorados. AST8 jamais se conformaria em morrer num planeta primitivo como a Terra. Ele não era cristão e só estava em visita. Não poderia ser preso e julgado por uma coisa que não conhecia e nem aceitava. Porém, astuto como era, percebeu nas atitudes de Tiago o temor e a reverência à Lei de Moisés, e logo se pôs ao seu lado como um observador fiel, já que nesta atitude provavelmente estaria garantida a sua liberdade.
O oficial aproximou-se de AST8 e perguntou-lhe:
— De onde sois?
— De Corinto, senhor – respondeu, falando o primeiro nome que lhe veio à mente.
— Como vos chamais?
AST8 pensou rapidamente: “E agora? Como me chamo?”
E respondeu:
— Saulo, senhor.
— Sois circuncidado?
AST8 não tinha ideia do que significava aquela palavra e respondeu que não.
— Como não, se sois hebreu?
— É que meus pais viveram muito tempo fora de Corinto. Foram viver em Roma e assimilaram muito dos costumes romanos, deixando de seguir o judaísmo. Uma de minhas irmãs tornou-se seguidora do culto de Vesta.
— Habitais nesta cidade?
— Estou transferindo-me para cá para retomar o culto às nossas melhores tradições, infelizmente esquecidas pelos meus ancestrais.
— E o que estais fazendo aqui, com estes homens desprezíveis do “Caminho”?
— Vim visitar meu amigo Tiago, senhor, que é um fiel seguidor da Lei.
— Pois muito bem. Se pretendeis retomar as tradições de vossos genitores, nossa tradição diz que todo homem deve ser circuncidado. Em dois dias realizaremos a circuncisão.
AST8 estava pálido, apavorado, e mais ainda ficou quando soube o que significava a palavra circuncisão. Quis fugir, ir para outra cidade, mas teria que cumprir a viagem, já que era um prêmio e ele, como mandatário supremo do seu planeta, não poderia dar sinais de medo, de despreparo para qualquer atividade. Procurou conversar com Tiago, que o acalmou, falou sobre os costumes hebreus, para que ele não cometesse nenhum erro na hora da cerimônia.
No dia aprazado, AST8, XPZ4 e outros irmãos da caravana foram circuncidados para que não houvesse represálias contra a igreja de Jerusalém.
Permaneceram ainda por mais alguns dias, desfrutando da cidade. Conheceram várias cidades, dentre elas Belém e Nazaré, o templo de Jerusalém, a sinagoga, etc.
AST8 sabia da existência do Novo Mundo e sugeriu um passeio pelas florestas tropicais da América do Sul, um sobrevoo sobre a América do Norte e Central e uma visita também aos polos norte e sul. E assim foi feito.
A caminho da Europa, a nave teve uma pane e tiveram que fazer um pouso na floresta. Indígenas os rodearam, curiosos. A princípio acharam que seriam deuses dos ares, já que a nave tinha caído dos céus, era um objeto jamais conhecido por eles e emitia luzes e sons. Uma peça havia se estragado e precisava de reposição. Sem ela, era impossível voar. Procuraram entre as diversas peças que haviam trazido para reposição em caso de necessidade, mas não a tinham, e tiveram que entrar em contato com o planeta, para que algum astronauta pudesse trazer a peça até a Terra ou resgatá-los. Porém, os aparelhos sofisticados não conseguiam manter contato com o planeta e a comunicação não acontecia de uma forma satisfatória. As falhas na comunicação eram constantes. Já a comunicação entre os ocupantes da nave e os indígenas era feita por gestos, que depois foram se transformando em palavras.
Convidados a fazer uma refeição pelo chefe da tribo, nossos amigos tiveram que comer comidas em que jamais haviam pensado e participar das danças da tribo em sua homenagem. Queriam explicações sobre acontecimentos da Natureza, sobre como construir um aparelho daqueles que voava como os pássaros, queriam notícias sobre o recebimento das suas oferendas pelos deuses da chuva, do sol, das estrelas, etc. E nossos amigos, tentando satisfazê-los, iam se passando por deuses. Foram dadas aos nossos amigos algumas ocas, para que dormissem e se abrigassem da chuva, do frio e de animais selvagens.
A resposta do planeta não chegava, porque a comunicação não se fazia perfeita, e os dias foram passando. AST8 solicitava ajuda, mas não sabiam se iam receber a peça de reposição para consertar a nave, e então tinham que se submeter às mais estranhas festas para eles.
Um dia foram convidados a participar do ritual onde o menino adolescente tem de enfrentar a mordedura de uma colmeia de abelhas para que, se bem suportado, transformar-se em um guerreiro perante a tribo. Outro dia foram a uma caçada onde tinham que empunhar instrumentos para a realização da mesma, e depois a preparação e a ingestão. AST8 estava desesperado. Não suportava tanto primitivismo.
— O que acontece que não respondem ao nosso chamado de socorro? Precisamos da peça para sair daqui o mais rápido possível – dizia. – Já tentei contato com a CGU, que também não respondeu.
O chefe da tribo, vendo AST8 tentar comunicação com seu planeta, quis saber a quem ele chamava. Explicou que tentava contato com a sua estrela. O chefe achou fantástico o radiocomunicador, e quis também falar. AST8 teve que permitir para que não houvesse problemas. Porém, o rádio não respondia e ele cada vez mais se desesperava.
Durante um ritual de dança e de cura, o pajé, concentrando-se, disse a AST8 que seu planeta estava em guerra. Disse que um inimigo havia invadido seu planeta e por isso não conseguia comunicar-se. Evidentemente que AST8 não acreditou naquele índio, ignorante ao extremo para ele, e continuou em suas tentativas.