Em sua nova situação de liberdade e de destruição, planetas vizinhos ajudaram na reconstrução de Artúrio. Eleito um novo governador e destituído AST8, que se encontrava ausente havia vários meses, começaram as obras de reconstrução. A solidariedade, irmã da fraternidade e filha do amor, tomou conta dos corações. A Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré agora era vista como uma casa necessária e utilíssima. A todo momento chegavam naves de outros planetas trazendo alimentos, roupas e remédios para o auxílio aos necessitados recolhidos pela Fraternidade.

RTC9, eleito novo governador pelo povo desesperado, era um homem inescrupuloso. Sempre havia sonhado com o poder e, como não haviam aparecido outros candidatos a assumir a reconstrução do planeta, acabou sendo eleito. Começou devagarinho a desviar verbas para seus interesses particulares e construiu uma bela casa, comprou pequena nave que servia como meio de transporte para ele e a família e, em breve tempo, era possuidor de muitos bens.

A reconstrução estava com obras atrasadas e ele mesmo não tinha interesse em reconstruir tudo rapidamente, pois assim era mais fácil o desvio de verbas.

Voltando à floresta onde XPZ4 e AST8 tinham sua nave avariada, o desespero tomava conta de todos. A comida havia acabado fazia meses e eles tiveram que se acostumar a comer como os índios, aprender a caçar e a se proteger de animais selvagens.

Todos os dias procuravam nos céus muito azuis sinais de alguma nave que passasse perto da Terra, mas nunca viam nada. Os instrumentos de comunicação da nave pareciam estar contrários ao retorno de todos, pois não acusavam o recebimento de nenhum sinal.

— O que os grandes exploradores e conquistadores viriam fazer nas proximidades da Terra? – perguntava AST8. – Os marcianos e os venusianos, que são os mais próximos, conhecem muito bem as condições científicas inexistentes aqui e não teriam nada a lucrar se viessem para cá. Não são dados a conquistas espaciais e não têm interesse em dominar o planeta.

Em um dia de muito sol, avistaram através do telescópio uma nave exploradora vinda de Netuno e que passava a alguns milhares de quilômetros da Terra, e procuraram entrar em contato pelo rádio. Souberam então da invasão e destruição de Artúrio, e ficaram apavorados. AST8 chegou a sentir um desespero tamanho, que o fez gritar como um louco. Soube que havia sido destituído do cargo de governador e agora RTC9, seu maior desafeto no planeta, era o novo governante. Os índios acorreram para saber o que estava acontecendo, e o pajé deu-lhe um calmante de ervas. Aproveitou para pedir a peça de reposição da nave e recebeu a promessa do envio o mais rápido possível. Porém, o que eles não sabiam é que, em alguns meses de ausência e sem mais estar atualizados com os avanços da ciência, sua nave já era obsoleta, e a peça de reposição não mais estava sendo fabricada. Sim, estamos falando de futuro, onde tudo acontece num estalar de dedos.

— Não lhe disse, AST8, que você não devia menosprezar a sabedoria daquele índio?

— Não me encha a paciência, XPZ4.

— Ele disse que o planeta tinha sido invadido e acertou em cheio.

— Coincidência, só isso.

— Eles têm mediunidade e entram em contato com os Espíritos. Li sobre mediunidade num livro publicado que Ulisses me deu quando estive em Ursa Maior. Os índios têm métodos diferentes daqueles empregados nos contatos narrados no livro, mas também são assistidos pelos Espíritos. Acreditam que seus ancestrais não os abandonam e procuram estar sempre em contato com eles. CNL6, em suas psicografias, também tem a mesma forma de contato ensinada nos livros que Ulisses me deu, pois ela já a havia praticado quando morava em Júpiter.

— Ora, XPZ4, você fala disso, mas onde foi parar o tal Irmão Fábio, que se manifestava por CNL6? Abandonou-nos, não é verdade? Onde está a sua exemplificação da caridade, do amor ao próximo que pregava? Por que não nos ajuda a sair daqui?

— Porque os Espíritos não podem interferir na vontade divina, AST8. Eles são executores da vontade de Deus e não podem modificar Suas ordens. Se estamos passando por essa dificuldade, é porque ela é da vontade de Deus e nos ajudará no nosso crescimento espiritual.

AST8 deu uma boa gargalhada e disse:

— Não conhecia seu lado humorístico, XPZ4. O que podemos aprender com índios de um planeta atrasado?

E XPZ4, não se deixando abater, respondeu:

— Aprendemos a caçar, usar arco e flecha, comer animais silvestres, proteger-nos dos animais ferozes, etc. Pelo lado espiritual aprendemos a humildade, a simplicidade e a fé. Você sabia todas essas coisas?

— Não me encha, XPZ4.