Trabalhei por dois anos e meio como maquinista de trens da CPTM, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Conheci muitos maquinistas que tinham pelos trens uma verdadeira devoção, mas, confesso, nunca tive essa paixão pela ferrovia.
Meus dois anos e meio, entretanto, foram maravilhosos. Fiz grandes amizades (que, espero, leiam e apreciem este livro) e saí de lá com conhecimentos que jamais acharia que pudesse ter. Muitos dos conceitos de trens que você encontrou nesse livro vieram desses dois anos de experiências – coisas como procedimentos operacionais, equipamentos e até mesmo o funcionamento do “homem-morto” (sim, isso existe em todos os trens, e acredite: é uma coisa boa).
A propósito, também não acredito em redenção, céu ou inferno. Mas isso não me impede de contar histórias, e tentar ser o mais verdadeiro possível na minha viagem. Você pode identificar virtualmente qualquer religião neste texto, e inclusive não identificar nenhuma - o que é o meu caso.
Essa história, inicialmente, deveria ter surgido como um conto. E se um maquinista descobrisse que está morto, e preso dentro de um trem eternamente? Mas os desdobramentos dessa história só foram ficando claros depois de muitos anos, e, assim que tive toda a ideia, percebi que deveria ser mais profundo e imersivo do que um conto. Não sou de falar pouco, ademais.
E, como sempre, há tantas metáforas, mensagens subliminares e referências cruzadas nessa história que vou aproveitar o conceito do QR Code – já utilizado no “Fora do Tempo”, para que você possa descobrir o que há por trás de uma “singela” história. Fique à vontade para comentar o que achou de tudo isso!
Ah! E obrigado por ler mais essa história. Se ainda não leu “Fora do Tempo”, não perca… bem, não perca tempo. Corre lá!
O livro fala sobre Noesis, um maquinista que está num trem noturno, que não faz paradas e que tem passageiros muito estranhos. Acaba percebendo que está morto, e que sua viagem é de arrependimento, compreensão e redenção.
Em uma segunda camada, temos referência à história dos Três Porquinhos, e às Casas de cada um deles. A palha, aqui, representada pelas cores bege, creme, amarelinho, loiro-pálido, cáqui, algodão cru, etc. A madeira, por tons marrons, castanhos, sangue seco, café, camurça, amadeirados e tudo o que a ela se refere. O tijolo, por fim, representado por tons de cerâmica, terracota, ruivo, vermelho escuro, sangue vivo, bordô. O Lobo é representado por cores e materiais metálicos, como o trem.
Cícero, Heitor e Prático não são os nomes originais dos três porquinhos (eles não tinham nome), mas foram consagrados pelos filmes e animações da Disney.
Mas mesmo os Três Porquinhos é uma metáfora para as fases da vida de Noesis: a palha representa a infância e o medo; a madeira, a adolescência e revolta. O tijolo representa a vida adulta e a resiliência. Esta seria a terceira camada da história.
Uma quarta camada, ainda mais profunda, tem a ver com a Teoria do Processo de Individuação, de Jung. É essa a razão das sombras e escuridão no encontro com os adolescentes, e é essa a razão para que a última cabine (da cauda) se chamar “Integração”.
No mais, há referências veladas ou explícitas em quase todos os nomes.
Iago (Otelo, Shakespeare) – O mestre da manipulação que move toda a tragédia de Otelo com sua astúcia.
Humbert Humbert (Lolita, Vladimir Nabokov) – Manipulador perverso que distorce a realidade para justificar seus atos horríveis.
Virgílio (A Divina Comédia, Dante) – o guia espiritual do protagonista através do inferno e do purgatório. Como na Divina Comédia, ele conduz o protagonista pelos primeiros estágios da revelação, ajudando-o a compreender o que precisa enfrentar.
Caronte (Auto da Barca do Inferno) – o barqueiro do Inferno, responsável por conduzir as almas através dos rios Aqueronte e Estige. Como na mitologia, ele conduz almas, mas sem poder salvá-las, apenas guiá-las.
O trem (o lobo) segue de Wolfsburg para Roma, porque:
Wolfsburg – “O castelo do lobo”, carrega a essência do lobo, conectando diretamente com a ideia de predador implacável que desafia os porquinhos.
Roma – tem uma ligação mitológica com a loba que amamentou Rômulo e Remo, os fundadores da cidade. Isso introduz a ideia de origem, renascimento e instinto materno, contrastando com a ameaça do lobo.
Noesis Wiederkunft – “Noesis” é um termo filosófico grego que significa "ato de perceber ou compreender", ligado à consciência superior. “Wiederkunft” vem do alemão ("Wieder" = novamente; "Kunft" = vinda), tendo como significado "Aquele que retorna" ou "renascido". A ideia remete ao conceito de "Eterno Retorno" de Nietzsche (Assim Falou Zaratustra). Ele nasceu em 30 de janeiro de 1972 – Ocorre o Domingo Sangrento na Irlanda do Norte, quando tropas britânicas atiram contra manifestantes em Derry, matando 13 pessoas.
Schlüssel Raskólnikov – Schlüssel = chave, em alemão. Raskólnikov é o nome do protagonista de Dostoiévski em “Crime e Castigo”.