Apenas seus passos ecoavam nas profundidades da catacumba, enquanto o cheiro ao redor se tornava mais forte à medida que avançava. Era uma mistura de mofo e ozônio, além de uma espécie de eletricidade pairar pelo ar.
Lançou adiante um feixe de néon verde, revelando, entre as paredes de metal corroído, os sarcófagos dos quais aquele odor parecia emanar. Estavam alinhados em fileiras simétricas ao longo dos corredores. Não eram de pedra, mas sim de uma liga metálica desconhecida, com painéis transparentes que revelavam seu conteúdo sombrio. Em vez de múmias envolvidas em linho, as figuras internas apareciam envoltas em cabos, fios e circuitos.
Cada sarcófago contava uma história de fusão entre homem e máquina. Uma tentativa de imortalidade que falhara de maneira grotesca.
Lara se aproximou de um deles e passou a mão sobre o vidro gelado. Lá de dentro, um rosto mumificado de olhos estáticos parecia encará-la, mas cabos que outrora haviam sido conectores vitais agora não passavam de um caótico emaranhado de sucata.
– Impressionante, mas bizarro.
Ativou seu scanner de pulso e a leitura realizada tomou a forma de um borrão de dados corrompidos, ressoando como uma sinfonia de ruídos digitais. Cada um daqueles corpos um dia respirara, pensara e talvez até alimentara sonhos em um mundo muito diferente do dela.
Uma pontada de desconforto a picou, mas isso não foi nada se comparado a um estridor metálico que foi crescendo até se tornar um zumbido cortante.
Virou-se e os sensores em seu implante ocular incrementaram o brilho para penetrar na escuridão à frente.
Não havia nada. Apenas sombras com o regresso do silêncio.
Avançou com cautela, cada passo medido e silencioso, seus dedos prontos para disparar a arma de plasma que se materializaria sob sua vontade.
O som se repetiu, muito mais próximo. Lara segurou o fôlego. Conseguia captar a presença de uma vibração perversa nas entranhas da catacumba.
Um vulto revestido de cabos e circuitos emergiu das trevas; atacou-a rugindo, na velocidade do bote de uma cobra, e Lara rolou para o lado, a arma já materializada atirando um feixe azul que iluminou o corredor feito um relâmpago.
O agressor se desviou, sua silhueta revelada em parte pelo clarão: era uma figura humanoide metade múmia e metade máquina. Seus olhos rutilavam em uma luz vermelha famélica.
Lara ficou de pé com todos os sentidos em alerta, preparando-se para o próximo movimento.
A cibermúmia avançou, seus braços repletos de garras metálicas se estendendo para dilacerá-la.
Lara se esquivou, disparando mais uma vez; o feixe de plasma ricocheteou na parede metálica.
– Porra! – gritou, recalibrando a mira.
Seu implante ocular agora mostrava o inimigo em detalhes: era um emaranhado de músculos atrofiados e veias e artérias cibernéticas aparentemente privadas de qualquer fluido ou carga, seus movimentos alimentados por uma energia desconhecida.
Com uma determinação fria, Lara aguardou o próximo ataque. A cibermúmia saltou, e ela mirou no ponto onde os circuitos se conectavam ao crânio. Um tiro certeiro. O corpo tombou no chão com um estrondo, as conexões que antes pareciam apagadas faiscando e crepitando em um derradeiro estertor elétrico, até se reduzirem à completa imobilidade.
Lara se aproximou do corpo estático. Ofegante, sabia que havia mais criaturas do tipo ocultas nas profundezas, só esperando para atacar. Mas também sabia que, para sair viva dali, precisaria derrotar cada uma delas com a mesma firmeza de espírito.
– Está na hora de acabar com isso – murmurou, prosseguindo a passos cuidadosos pelo corredor lôbrego.