
— Daniella conseguiu fechar um acordo com o prÃncipe dos Emirados Ãrabes. Vamos abrir uma filial lá. Não é maravilhoso? — Dr. Orion compartilhou as conquistas da filha com um Neo atento. Era nÃtido o brilho nos olhos do homem por ter sua filha por perto novamente. Neo não se lembrava da última vez que o vira tão animado. — Agora preciso que vocês dois recuperem o Orion Star de Londres. Sente-se. Tenho alguns dados preocupantes.
Depois de indicar uma das poltronas, Dr. Orion tocou a superfÃcie da mesa, ativando uma projeção holográfica que revelou gráficos e números indicando uma queda significativa na taxa de ocupação dos quartos, muito abaixo da média do mercado local.
As avaliações dos clientes eram assustadores. Vários custos operacionais estavam acima do esperado, enquanto as receitas com eventos, restaurantes e outras amenidades permaneciam muito abaixo do projetado. Era uma lista interminável. Não mencionou as suspeitas sobre a diretoria e os desvios identificados pela auditoria. Daniella percebeu a omissão do pai. Se ele estava escondendo isso dele, talvez não confiasse tanto assim no garoto que dizia considerar como filho.
— Para a inauguração do projeto das estufas, precisamos que o hotel esteja com as receitas saudáveis. Gostaria que você assumisse essa recuperação financeira enquanto Daniella lida com a situação na diretoria.
— Não, papai — Daniella cortou. — Esse assunto está encerrado. Admito que aprecio o senhor Alex pelo café, mas insisto que existem pessoas mais qualificadas para acompanhá-lo nessa tarefa.
— Nós dois sabemos que não existe ninguém mais qualificado do que você. Não acha que já está na hora de assumir seu lugar na liderança do grupo? — Dr. Orion suspirou. — Deixei que você tivesse sua vida do outro lado do mundo por muito tempo, Daniella, mas estou ficando velho. Não tenho mais a mesma disposição de antes. Além disso, Alex vai precisar de todo apoio possÃvel para as estufas, e você tem autoridade suficiente para me representar. Eu não posso me afastar daqui por muito tempo.
Daniella lançou um olhar de impaciência enquanto andava de um lado a outro da sala.
— Papai, sem sentimentalismo, por favor. O senhor é um homem saudável e tem dinheiro suficiente para fazer qualquer atualização orgânica que vier a precisar.
Neo ficou horrorizado com a frieza daquela mulher. A mesma pessoa por quem Dr. Orion fazia tudo agora se recusava a retribuir o mÃnimo. Aquela figura distante não tinha traços da amiga que conhecera. Como os anos a haviam transformado tanto?
— Pois bem, vou pensar no que fazer quanto à situação de Londres nos próximos dias. Você poderia ao menos ficar mais tempo com seu pai? — No fundo, Dr. Orion sabia que só precisava de mais alguns dias para convencê-la.
— Posso pensar sobre isso, já que parece sentir tanto a minha falta.
— É claro que sinto. — Ele se acomodou na cadeira. — Não sabe o quanto me entristece não poder vê-la com frequência. Você nunca mais quis voltar para casa, e os negócios não permitem me afastar por tanto tempo.
— Tudo bem, posso ficar mais alguns dias. Não será um problema.
— Ótimo! — Ele espalmou as mãos sobre a mesa e alcançou o relógio de pulso: — Gregori, poderia pedir a Tyler que venha à minha sala?
Pouco tempo depois, alguém bateu à porta do escritório. Daniella reconheceu o nome, e o olhar. Tyler, o amigo de Neo, havia se transformado: músculos definidos sob o terno impecável e feições elegantes de um homem adulto. O corte militar com laterais raspadas destacava sua pele negra e bem cuidada. Os olhos cor de mel, que antigamente faziam as garotas da academia suspirarem, permaneciam magnéticos. Por um momento, Daniella permitiu-se apreciar a presença do antigo amigo enquanto memórias dos treinos de infância ressurgiam.
— Dr. Orion. Precisa de algo? — Tyler manteve-se junto à porta, as mãos às costas e postura perfeita.
— Lembra-se da minha filha, Daniella? — Dr. Orion indicou-a com um gesto. O rapaz apenas assentiu com um aceno respeitoso.
— Como está, Tyler? — Daniella indagou, casualmente massageando a própria nuca. — Não sabia que trabalhava para meu pai.
— Estou bem, senhorita, obrigado. Sim, estou muito satisfeito em trabalhar para vocês. Se precisar de algo, não hesite em solicitar.
— Como está o Neo? Você ainda tem contato com ele? — A pergunta fez tanto Dr. Orion quanto Neo olharem em sua direção.
Tyler franziu o cenho, confuso. O amigo estava ali mesmo, quase ao alcance dela. Neo imediatamente gesticulou uma negativa discreta por trás de Daniella.
— Sim… Tenho contato ainda. Ele está bem. Devo marcar um encontro para colocarem o assunto em dia?
Neo estreitou os olhos e deslizou o polegar pela garganta em um gesto sutil, enquanto a sua expressão gritava: O que você pensa que está fazendo? Tyler deu um sorriso discreto no canto dos lábios, como se respondesse: E quem vai me matar? Você?
Sem perceber a comunicação silenciosa, Daniella se aproximou da mesa do pai.
— Não. Estava apenas sendo educada. Mas foi bom vê-lo novamente depois de tanto tempo.
— Não se preocupe minha filha. Agora poderá vê-lo todos os dias. Tyler será designado como seu segurança.
Daniella girou nos saltos e encarou o pai.
— Isso é completamente desnecessário — disse, abandonando a postura de herdeira insuportável e assumindo um tom sério. — O senhor precisa mais dele do que eu. Não posso privá-lo de um funcionário tão importante.
— Mas me deixará mais tranquilo. Você deixou Liu para trás. Não quero que fique andando sem segurança por aqui.
— Papai! — Daniella exalou, exausta. — Estou começando a me arrepender de ter atendido seu chamado.
— Não posso permitir que o que aconteceu em Londres se repita. — ele respondeu, subitamente sério. — Liu sempre esteve ao seu lado depois daquele incidente, o que me tranquilizava, mas você o deixou para trás.
— Ele tem famÃlia.
— Você também tem. Não foi nenhum sacrifÃcio dar as costas para seu pai. Se ele tivesse esposa e filhos, eu entenderia, mas é um homem jovem e solteiro. — Daniella surpreendeu-se com o tom de mágoa nas palavras do pai. Parecia que ele guardara aquilo por muito tempo.
Neo mergulhou em pensamentos. A menção desse Liu ao lado de Daniella provocou uma pontada em seu peito. Aquela antiga sensação de ter sido deixado para trás voltava após tantos anos.
— Papai. Não preciso de segurança. Esqueceu que me colocou para treinar artes marciais desde criança? Consigo me defender.
Dr. Orion fitou o horizonte, nostálgico.
— Adorava assistir seus exames de faixa. Você sempre foi uma criançagraciosa. — Voltou o olhar para a filha. — Tudo bem, me convença, então. — Apontou um dedo para ela, e então para Tyler. — Quem vencer decide.
— Isso é ridÃculo. Não vou lutar com seu segurança só porque sente falta da minha infância.
— Só quero acreditar que você sabe se defender, minha filha. Se for capaz de vencer um ex-membro das forças especiais, dou o braço a torcer. Pode até voltar para a China. Não vou mais incomodá-la. Alex cuidará de tudo em Londres.
Daniella examinou Tyler com atenção. Seu pai sempre fora um homem de palavra; talvez valesse a pena uma pequena demonstração para manter a paz familiar.

Recadinho da Autora:
Olá, amigos. Aqui estamos de novo. Qual foi a impressão que vocês tiveram do Tyler? Estão lembrados de que aquele plano falho do prólogo foi ideia dele? E, principalmente, façam suas apostas: quem vocês acham que vai vencer essa disputa? Tyler ou Daniella? Pelo jeito, o Dr. Orion já escolheu o campeão dele. E você, vai escolher quem?
Nos vemos no próximo capÃtulo!