
O primeiro golpe veio direto, mirando o queixo dela. O segundo surgiu de lado, num arco seco que buscava as costelas. Tyler avançou com força: socos e chutes ritmados, tentando intimidá-la com o próprio corpo. Daniella desviou para trás, sentindo o vento do soco passar pelo nariz. Um sorriso escapou do canto da boca conforme bloqueava os ataques seguintes.
Finalmente ele a levava a sério.
O ombro direito dele tensionava antes de cada ataque com a esquerda. Na terceira vez, ela se moveu para a lateral. Percebeu o padrão e começou a escapar dos golpes. O chute passou rente, varrendo o espaço onde sua cabeça estivera. Ela girou sobre os calcanhares e deslizou para trás dele. A velocidade era sua vantagem: manteve-se em movimento, circulando, forçando-o a se virar constantemente.
Conforme a luta avançava, ele percebeu que não conseguiria encurralá-la facilmente. Resolveu mudar de tática. Em vez de manter distância, partiu para o corpo a corpo, onde sua força faria diferença. Tyler agarrou o braço direito dela e puxou-a para perto, prensando-a contra o peito. O calor do corpo dele e o cheiro de suor invadiram suas narinas. O antebraço pressionava firme contra o dela, restringindo seus movimentos. Daniella encontrou o nervo na axila exposta com um toque certeiro. Um grunhido escapou dele, e o aperto afrouxou.
Sem fôlego, ele percebeu que não conseguiria manter o ritmo. Daniella não demonstrava cansaço, e o dominava com facilidade. Entendeu que aquela garota não precisava de um segurança.
— Você acha que se eu perder ele vai me demitir?
Um sorriso curvou nos lábios pintados de vermelho.
— Eu não manteria você se não pudesse ganhar de uma mulher civil.
— Você é uma civil? — A pergunta veio carregada de suspeita. — Não posso perder esse emprego. — o suor escorria pela têmpora, ao mesmo tempo em que Tyler baixou os braços, — Minha irmã…
Daniella manteve a guarda, mas o tom dele a fez esperar.
— Você não vai ser meu segurança se não tiver capacidade de me derrubar.
— O acidente que levou os meus pais. Ela sobreviveu, mas… — Ele ergueu o braço, bloqueando o soco que ela mirou no centro do peito, a voz falhando — Preciso desse emprego.
— Você acha que vou cair nessa? — Daniella acertou o supercÃlio de Tyler — Que vou ficar com pena de você e da sua irmã?
Tyler deixou as mãos caÃrem ao lado do corpo. O vinco em suas sobrancelhas indicava que aquela mulher estava longe de ser a princesinha do papai.
— Não vou passar para seu pai nenhuma informação que você não tenha permitido — declarou, a respiração entrecortada. Sua postura revelava menos intimidação e mais honestidade crua. — Você tem minha palavra. Não tenho intenção de te atrapalhar.
Ela manteve a distância, os olhos fixos no corte no supercÃlio, na forma como ele mantinha os punhos relaxados. A voz dele havia rachado ao mencionar a irmã. Mentirosos não rachavam a voz assim. O ombro caÃdo, a garganta exposta quando falava da famÃlia. Tyler não controlava as micro-expressões como os soldados que conhecera. As mãos trêmulas, o suor que não era só do esforço fÃsico.
“Saiba suas fraquezas, seus pontos fortes, como influenciá-las.†As palavras da mentora ecoaram. “Não desperdice aliados, não desperdice influências. Cada pessoa é uma chave que abre uma porta especÃfica. Você precisa colecionar chaves.†Homens desesperados eram chaves úteis. “Esteja sempre aberta à oportunidade de usar alguém como um recurso.â€
Tyler avançou com um soco vindo de baixo. Daniella se inclinou e acertou duas vezes as costelas dele. Ele respondeu com um soco lateral, mas ela bloqueou com o antebraço.
Mesmo cansado, ele resistia. A maioria já teria recuado, mas Tyler continuou atacando. Ela reconhecia a persistência: a mesma que a mantivera viva em situações piores. Talvez estivesse falando a verdade sobre a irmã.
Viu que ele se preparava para um chute giratório como última cartada, mal se aguentando em pé, mas com determinação nos olhos. O mesmo olhar que via antigamente no espelho durante o próprio treinamento. A têmpora direita formigou em antecipação ao passo em que ela deliberadamente deixava a guarda baixar o suficiente. O impacto veio como um clarão, seguido por silêncio e a sensação de estar flutuando antes que a escuridão a envolvesse.
O baque surdo do corpo de Daniella atingindo o chão reverberou pela academia. O silêncio se quebrou com o grito sofrido do Dr. Orion enquanto Tyler ainda sentia a vibração do chute. O sangue do próprio supercÃlio pingava no chão. No momento em que Neo invadiu o espaço com fúria nos olhos, Tyler compreendeu o que havia acontecido.
Daniella foi levada para a enfermaria, com Dr. Orion, pálido, em seu encalço. Os enfermeiros o tranquilizavam, dizendo que ela estava bem, afinal, o Politec Flex absorveu o impacto da sua cabeça.
— Idiota! — Neo o empurrou — O que você pensa que estava fazendo? Ela é só uma garota.
Tyler riu, debochando da própria derrota.
— Não seja ridÃculo. Ela… ela me deixou ganhar.
Deitou no chão de braços abertos, puxando o ar com dificuldade. Ela havia acabado com ele, fÃsica e psicologicamente.

Recadinho da Autora:
Olá, meus caros leitores,
Está oficialmente aberta a temporada das teorias da conspiração. Tyler sabe que foi passado nessa prova. Quanta humilhação, não é?
Em que exatamente vocês acham que a nossa querida estrategista está pensando em usar o bonito? Deem sugestões para ajudar a Dani a dar uma atividade útil para ele kkk
