Frida era uma boa moça de Hastburg, vilarejo rodeado por montanhas de picos de neve quase azulada, que reluzia como um mar estável nos dias calmos de Sol. Cuidava com seu marido Jurgen de uma vaca e de uma pequena lavoura, da qual metade dos rendimentos precisava ser cedida ao barão de Salzburgo, vassalo do duque Leopoldo da Áustria e senhor do castelo mais próximo, que em troca lhes assegurava proteção.
Frida completara dezesseis primaveras havia poucos dias. Cerca de um ano antes, encantara o então vizinho da casa de seus pais, que passava dos trinta. Trocavam olhares todos os dias. Com especial quentura quando ela saía para colher frutos e, uma vez com o cesto cheio, fitava-o com rubor. Às vezes empregava apenas uma mão para segurar o recipiente, enquanto com a outra mexia nos cabelos loiros cacheados. Ele retribuía com um sorriso e um ar de bondade rústica, e assim ficaram por meses, até que Jurgen tomara coragem para pedir sua mão.
Era comum ouvir falar de homens que, por se sentirem atraídos por alguma moça, não hesitavam em raptá-las. Ou, pior, em violentá-las. Podiam causar uma gravidez, sem depois assumirem qualquer responsabilidade. Jurgen, para sua sorte, não era assim.
Tímido e gentil, podia não ser a mais bela das criaturas, tinha o rosto sulcado de sol e as olheiras fundas, porém era mais alto do que a média e apresentava um corpo de músculos rijos por trabalhar muito na terra.
Nunca lhe inspirara medo e, quando tirava o chapéu de palha para cumprimentá-la, sem lhe dirigir a palavra, passava uma impressão de respeito por sua pessoa e modos dignos de um cavaleiro, embora fosse, claro, um camponês. Quanto aos raptos e estupros, muitos, aliás, eram efetuados por nobres. E os primeiros, sobretudo, entre nobres.
– E o que você tem de bom a oferecer à minha filha? – Seu pai era um homem rude, bruto e cego de um olho, resultado de, segundo dizia, um confronto que travara com um licantropo.
– Minha casa e o cultivo de minha terra e de meu amor, que estou certo que dará muitos frutos. Não me limitarei a deixar as coisas como estão, a me acomodar no que sinto por ela. Colocarei uma enxada em meu coração. – A resposta do homem fizera seu velho acariciar a barba crespa, pensativo, e a deixara em um estado de apreensão. Frida permanecia ao lado da mãe no outro cômodo da casa, mas escutava o que o pai e o pretendente conversavam.
– Fique sossegada, Frida. Seu pai é um homem sábio. Tomará a melhor decisão. – A mãe cochichara em seu ouvido esquerdo.
– Tenho um certo receio. – As duas sobre um enxergão de palha, aconchegara-se perto do ventre da mãe, encolhera-se e recebera algumas carícias, arregalados seus olhos azuis. – Esse moço parece ser tão bom, tão correto! Caso papai o rejeite, não sei se outro como ele vai aparecer para mim, com tantos homens violentos por aí.
– Se ele for o que parece, o que você acha que ele é, seu pai o aceitará. – E fora o que ocorrera, o casamento consumado em uma festa simples, mas farta, com direito a uma boa quantidade de cerveja, vinho aromatizado, sidra de pera, frango assado com ervilhas e pato recheado com favas, além de haver frutas, pão e queijo. Ela com seu melhor vestido verde.
Transcorreram, a partir daí, pouco mais de um ano em harmonia. Até, numa noite em que a Lua cheia dava a impressão de se mover à imagem e semelhança de um veloz disco de pura luz prateada, a roda da fortuna girar e, montados em cavalos vermelhos, chegarem bárbaros vindos do leste, de cabeças raspadas e pontiagudas devido aos terríveis costumes que, aplicados desde a infância, deformavam-lhes os crânios.
Depois diriam que se tratavam de magiares, que saquearam a aldeia e partiram em disparada deixando rastros de devastação, tão velozes que não fora possível para o barão de Salzburgo proteger o local a tempo.
Em sua chegada, os cavaleiros locais, da insígnia da águia vermelha em fundo branco, se depararam com a destruição de terras pisoteadas.
Viram uma jovem que chorava sobre o cadáver de um homem, cujo pescoço e peito haviam sido perfurados por flechas. Os cabelos dela estavam precipitados sobre as faces, até que ergueu o olhar em fúria, revelando um rosto sardento arrasado pela umidade. Iria amaldiçoá-los:
– Covardes! Incompetentes! Onde estavam quando o meu marido foi morto? Damos metade do que temos, que poderia servir não só para nós como para gente mais pobre, e vocês sequer nos protegem! Que a ira de Deus caia sobre vocês! – Frida desabafou.
Um daqueles homens desceu do cavalo e lhe desferiu um primeiro tapa com a luva metálica, seguido por vários outros. Deixou-a com os lábios e o queixo vermelhos, embora ela continuasse consciente e com o olhar arregalado e altivo, irremovível em seu ódio.
– Já chega. – Seu comandante deu a ordem do alto. Ainda assim, não parava: queria vê-la desmaiar. – Eu disse chega, Bastian! – Só então parou. – Já não é o suficiente a humilhação de ser insultado por uma camponesa? Ainda quer continuar a bater nela sem conseguir derrubá-la? – De fato, a jovem continuava de pé, embora cambaleante. – Reassuma o seu lugar. – Bufando, o homem deu as costas para Frida, que ofegava, com o semblante retorcido, os olhos abatidos agora, os lábios úmidos de sangue. O líder a advertiu: – Meça suas palavras da próxima vez. Palavras mal ditas podem lhe custar a vida neste mundo e a paz no próximo. – E partiram dali.
Só quando sumiram de seu campo de visão foi que se permitiu cair de costas. Toda dolorida, carne, alma e ossos, a pele ardendo; arranhou o chão com as unhas e arrancou um pouco de terra. Tristeza, medo, raiva, agonia e desespero se acumulavam em seu coração.
Conduziu as mãos sujas à testa suada e espalhou sobre esta algo de solo. Não demorou a perder os sentidos e despertou assustada, sem saber quanto tempo depois. Alguém a pisoteara. Pessoas já passavam pelas proximidades e haviam removido dali o cadáver de Jurgen. Levantou-se e correu até a residência de seus pais, na expectativa de que tivessem levado o corpo para lá.
Não havia ninguém naquelas bandas. E sua casa também estava vazia. Desabou em soluços e lágrimas: da noite para o dia, não restara nada em sua vida.
Contudo, após não soube quanto tempo de paralisia no ar, escutou outro pranto. Parecia querer acompanhá-la e partilhar sua tristeza, irmanado pela solidão. Não se tratava, porém, de um choro adulto. Frida conseguiu fazer cessar o seu e olhar para trás. Seguiu aquele rastro a passos vagarosos, ainda borrada de sangue, e confirmou a solidariedade infantil diante do pequenino que não parava. O bebê estava enrolado em panos apertados ao lado de um cadáver de mulher.
– Você também ficou sozinho? – indagou com ternura e uma óbvia eclosão de alegria. Alguém na sua mesma situação chegara para consolá-la e lhe fazer companhia. Um presente de Deus?
Deu-lhe o nome do pai desaparecido, o homem que lhe permitira a união com seu amado Jurgen: Sigmund. "Você poderá até ser rude por fora, mas será nobre por dentro, como foram seu pai e seu avô."
Sim: para Frida, Jurgen era o pai do pequeno Sigmund. Entregou-se ao amor que era capaz de dar, e cresceu então um jovem vigoroso, com um sentimento de admiração por sua mãe, que era sua confidente e a razão do brilho de seus olhos. Não tomava nenhuma decisão sem pedir seus conselhos. Era raro que sorrisse, a não ser para ela, e nenhuma outra pessoa atraía sua atenção, formal com as outras mulheres e distante com os homens. Não queria saber de tolas proximidades, de vizinhanças vazias.
Quando o filho chegou aos dezesseis, a mãe ainda parecia jovem. Na verdade, cada vez mais atraente, como o rapaz bem enxergava, e se lembrava do fascínio que Frida exercia sobre ele desde a tenra infância. Mesmo sem leite, o seio era cedido e sugado por horas e o menino preferia beber o que vinha da vaca a ser alimentado por mamas de vizinhas cordiais, que rejeitava mantendo os lábios estáticos. Confiava só em sua mãe, no perfume de seu seio.
O que a incomodava eram os ressentimentos que o garoto nutria pelo falecido pai.
– Não pode falar assim, filho. Seu pai não morreu porque quis! Ele foi assassinado por incréus. – Durante uma ceia, até parou de comer sua sopa de aveia e nabos.
– Ele nos abandonou. – Sigmund já comera tudo. – Deixou a senhora sozinha. Foi um fraco. Os homens têm que proteger as mulheres, mas o que ele fez? Pode ficar tranquila que eu vou ser diferente. Vou proteger a senhora.
– Fico feliz por ter a sua proteção, Sigmund. Mas eu amava muito o seu pai.
– Amar os fracos é o maior sinal de fraqueza que as mulheres costumam manifestar, demonstrando que precisam ser protegidas.
Depois dessa resposta, ela silenciou e se perguntou onde Sigmund teria aprendido aquilo. Talvez de algum pregador itinerante.
Ao alcançar aquela idade, o garoto não deixava por uma única noite de sonhar com a mãe. Na maioria das vezes, envolvido em cenas de guerra nas quais, ainda que nunca tivesse empunhado uma espada, protegia-a, brandindo uma, de criaturas abismais que, depois de terem as cabeças esmagadas, revelavam ser homens comuns. As garras davam lugar a unhas, os dentes perdiam o fio, as peles rubras, azuis ou cor de carvão tornavam-se róseas, cabelos recobriam as cabeças e os chifres encolhiam até desaparecer. No sangue derramado, havia cheiro de sêmen, que era o que sentia e saía ao despertar. Não compreendia o porquê daquilo, mas não rezava nunca e se negava a ir até um confessor. Desprezava a Igreja: "Se não preciso de um pai na Terra, por que precisaria de um no Céu? Ninguém me diz o que devo ser ou fazer. Sigo minha consciência, não a de um velho que nem sei se existe e que se existe é o pior pai que se possa conceber, sempre distante dos próprios filhos, morto para sempre, já que nunca esteve vivo" E em outros delírios noturnos perdia-se em um labirinto de luz, que de tão claro o deixava sem norte e sem visão. Fazia com que acordasse com uma forte enxaqueca. "Por que isso se repete?" Com pequenas variações, os intricados corredores fulgurantes retornavam com quase a mesma frequência dos devaneios sangrentos.
Frida, no chão em alguns destes, de pé em outros, estava sempre muda. Além de gelada quando a tocava para erguê-la, abraçá-la ou acariciar seu rosto e cabelos.
"Saberei quando devo morrer? E o que haverá depois? Desacredito em Inferno e Paraíso, mas estou convencido que a existência não possa cessar. Tudo deve seguir da mesma maneira, os demônios perambulando lá como cá, e depois de uma morte outra vida, e então outra morte, sem fim. A vida é uma maldição do acaso, não um presente de Deus", refletiu certo dia ao despertar. E naquela mesma manhã, em que o Sol descia como que prensando o que havia abaixo, Frida temeu que seu pesadelo se repetisse: mais uma vez desprotegida, a aldeia sofreu o ataque de um bando de salteadores, armados literalmente até os dentes com as facas, adagas e punhais que seguravam com suas bocas. Em sua grande maioria tipos atarracados, especialistas em atirar suas lanças em velocidade durante suas cavalgadas. Habilidosos também no manejo do arco.
– Aonde pensa que vai, Sigmund? Fique aqui, por favor. – Implorante, tentou reter o filho.
– Eu sempre disse que protegeria a senhora, então farei isso. – Como única arma disponível na casa, além de uma faca de cozinha, um longo bastão. – Não vou deixar que entrem e nos peguem desprevenidos e vulneráveis. Tudo aqui é pequeno e aberto demais para que possamos nos esconder. Eu vou lutar.
– Não cometa o mesmo erro do seu pai.
– Ele não era o meu pai. E deve ter morrido por bobagem. Não estava capacitado para lutar. Nunca me compare a ele.
– O seu pai era um homem bom. – Abaixou a cabeça com perceptível desagrado.
– Era um homem fraco. Não preciso da memória dele.
– Proteger este vilarejo é responsabilidade dos homens do barão.
– Se formos esperar por eles, quando chegarem já estaremos embaixo da terra. – Deu as costas à mãe, que deixou para trás com a impressão de que ela não choraria, e saiu de casa.
"Mulheres parecem fracas por natureza, mas possuem uma força diferente, que não sei explicar. Deve ser a mesma que permite que superem a dor do parto, mesmo sendo tão frágeis", logo que colocou a cabeça fora, uma adaga foi lançada em sua direção. Esquivou-se por um fio. Deixou que a lâmina se encravasse na madeira.
O inimigo a cavalo se preparou para atirar outra. O rapaz, para sua surpresa, rápido e forte o bastante para jogar seu bastão e atingi-lo, derrubando-o com a pancada. O animal fugiu. De qualquer maneira não adiantaria segurá-lo, porque Sigmund não sabia montar, porém alcançou o saqueador caído e ainda conseguiu chutar sua cabeça.
Com mais alguns golpes, teve certeza de que estava livre do sujeito, que até se revelaria bastante útil: Sigmund pegou para si o jaquetão estofado e o cinto com facas que este levava consigo.
Assumiria a liderança da resistência entre os aldeões. Um dos poucos a combater de forma eficiente desde o início, só depois de algum tempo acompanhado por seus vizinhos, que, sacudidos por seus gritos, mesmo com medo pegaram enxadas e paus e partiram para o ataque. Deixaram de apenas tentar fugir ou ceder como ovelhas atacadas por um bando de lobos.
– Aquele não é Sigmund, o filho de Frida? – Um dos camponeses perguntou a outro.
Muitos o conheciam, o admiravam e o invejavam pelo porte e sabiam de sua origem. A mãe, no entanto, pedira para que não revelassem a verdade ao seu menino, que deveria crescer certo de ser seu filho natural, e filho de Jurgen. Pena que ao crescer o rapaz desprezasse o pai.
– É ele mesmo. Bem que eu desconfiava. Veja só como ele luta! Deus não daria essa força para nós. Com toda a certeza o verdadeiro pai dele era um cavaleiro.
Mesmo nos momentos em que ficava sozinho, o rapaz ia dando conta da maior parte dos salteadores que enfrentava. Só corria ou se escondia quando não havia escolha.
Na hora em que os homens do senhor feudal chegaram, os ladrões, na esmagadora maioria, bateram em retirada, já constrangidos pelas dificuldades que tinham enfrentado.
Um dos cavaleiros parou perto do confronto entre Sigmund e dois invasores a pé. Haviam-no encurralado em um beco e pareciam sedentos de vingança.
– Por que parou, comandante Rosenberg? O rapaz está em apuros. – Outro guerreiro montado de capa e espada chegou. – Precisa de ajuda!
– Esses delinquentes é que estão encurralados. Observe os olhos desse jovem: eu o vi lutando antes, assim que chegamos, e em nenhum momento precisou da nossa ajuda. Duvido que necessite agora.
O duelo de facas foi rápido, de esquivas e golpes velozes, perfuradas as carnes de um e outro: os inimigos caíram; Sigmund permanecia de pé. Se bem que arfante como um cão cansado, sofrera apenas arranhões.
– Vai falar com esse plebeu? – O outro cavaleiro tentou deter Rosenberg, que porém o ignorou e continuou a avançar para perto do jovem.
Parou e tirou o capacete com abertura somente para os olhos. Entregou-o a um escudeiro ao lado e revelou ser um homem maduro, de barba e com um bom volume de cabelos grisalhos.
– Meus parabéns, rapaz. Como se chama? – Sigmund mal percebera a presença do nobre e tardou em responder, boquiaberto ao vê-lo próximo, enorme sobre o corcel, cuja gualdrapa carmesim, franjada de ouro, trazia o mesmo desenho do lobo cinzento presente em seu escudo.
Ao descer, revelou-se menor do que o camponês.
– Responda ao comandante Rosenberg! Não seja insolente! – O outro cavaleiro bradou à distância.
– Fique quieto, Gunther! Não vê a situação dele?
– O meu nome é Sigmund – replicou com uma firmeza rara.
Simpatizara no ato com o cavaleiro, que lhe deu a impressão de emanar uma aura de extraordinária nobreza, não só de berço como de espírito. Ajoelhou-se.
– Agora será que quer ser nomeado cavaleiro? – zombou Gunther.
– Você volte para o castelo. – Fulminado pelo olhar de Rosenberg, o outro homem engoliu a seco e teve que se retirar. O comandante tornou a se dirigir a Sigmund: – Você é diferente de todos os jovens rústicos que conheci até hoje. Não acredito que seja filho de camponeses. Posso conhecer a sua mãe? E levante essa cabeça.
– Mas… é claro. – Ergueu-se de pronto e o levou até sua casa.
– Graças a Deus! – No mesmo instante em que o viu, Frida pulou sobre o filho para abraçá-lo. Sigmund sentiu vergonha do carinho materno, pois não queria parecer uma criança. – Meu Deus, como você se machucou! – Acariciou-lhe o rosto. Não notara o cavaleiro parado na entrada. – E esse jaquetão, de quem é?
– Mãe… O senhor Karl von Rosenberg está aqui.
– Karl von Rosenberg? Mas esse é o nome de um dos comandantes da guarnição do barão. Ah… Meu Deus! – Tomou um susto ao discernir por fim o nobre, cujo sorriso amenizou a presença da cicatriz do lado esquerdo de seu rosto, onde havia também alguns pequenos bulbos. – Mil perdões, meu senhor! – Inclinou-se, segurada pelos ombros ao ameaçar se ajoelhar.
– Já basta. Não vim aqui para receber honrarias e compreendo que seu filho seja seu bem mais precioso, acima de qualquer formalidade. Fez muito bem em prestar atenção apenas nele quando entramos.
– Mesmo assim peço desculpas por minha falta de modos. Receio não ter nada a oferecer além de um pouco de leite. O jaquetão que Sigmund está usando por acaso pertence ao senhor?
– Não. Era de um dos salteadores que ele derrotou. Fiquei admirado com a força, a destreza e a coragem do seu rapaz.
– O que ele fez? – Diante de tais observações, não soube bem o que dizer ou perguntar.
– Derrotou mais delinquentes do que a maioria de nós do castelo. Fico admirado que alguém como ele possa ter nascido em um ambiente como este. – Olhou à sua volta e um calafrio percorreu a espinha de Frida. Haveria como Sigmund descobrir que não era realmente seu filho? Alguém no vilarejo acabaria por soltar a língua? Seu segredo começava a se desmanchar. – Senhora, vou levá-lo comigo por alguns dias. – Foi-lhe anunciado, numa suave imposição.
– Como?! – inquiriu incrédula.
Sigmund, ainda por perto, embora pouco em espírito e mais em corpo, ao qual retornou de forma brusca, arregalou os olhos.
– É como ouviu. No castelo, receberá os cuidados necessários para suas feridas. Que mesmo que pareçam insignificantes podem representar algum perigo. E darei início ao seu treinamento. – Olhou para o rapaz, que coçou o peito e abaixou a cabeça tomado por um misto de euforia e temor. Teria muitas saudades de sua mãe e sentia medo de deixá-la, mas, se era para se tornar um cavaleiro, qualquer sacrifício valia a pena! – O barão precisa de homens de verdade, fortes e sérios, bem preparados, não de meros bonecos de armadura. Encontrei em Sigmund um desses homens. Contudo, isso é ao mesmo tempo bom e ruim: ruim porque ele nunca poderá ser formalmente um cavaleiro, não tem berço para isso. Bom porque permanecerá próximo da senhora. Quando se encerrar o treino básico, o mandarei de volta para cá e virei adestrá-lo pessoalmente todos os dias, a menos que ocorram imprevistos, até que julgue concluída sua preparação. A partir daí, a aldeia não ficará mais desguarnecida: ele será o defensor fixo deste vilarejo, capaz de controlar qualquer perigo e de liderar os demais que aqui residem enquanto nós do castelo não chegarmos.
– Eu e o povo de Hastburg nunca teremos como agradecer. – Se por um lado o rapaz de início se entristecera ao saber que não poderia ser um cavaleiro com um título formal, ficara um pouco feliz por poder seguir ao lado da mãe.
No seu caso, o coração falava mais alto do que as formalidades. Sentiu-se quente, mais caloroso do que nunca, pois sabia ser um cavaleiro na alma.
– Senhor, muito nos honra o que diz, e tenho certeza de que cuidará bem do meu filho. – Frida tinha medo do futuro. Da possibilidade de Sigmund, como guardião de Hastburg, na linha de frente de qualquer ataque, perecer na defesa da aldeia. No entanto, começava a acreditar em sua força e se enchia de orgulho por ele estar se tornando um grande homem, a despeito de suas origens...
"Deus é justo. Se ele realmente tem sangue nobre, se foi possivelmente fruto do adultério de um cavaleiro com uma mulher daqui, ou então se é o filho indesejado de um casal de alta estirpe trazido aqui por uma serva que acabou sendo morta pelos magiares, Deus o está recompensando com um posto e uma missão dignas de seu sangue. Você está recebendo de volta o que merece, Sig. Espero que me desculpe, Jurgen, mas um pouco Sigmund tem razão: ele não poderia ser mesmo seu filho."
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