Havia olhos nas paredes. Mesmo que não fossem dos humanos presentes. A quem pertenciam, uma incógnita, entranhada na dimensão
das sensações e dúvidas puras. A luz era pobre, fornecida por candeias presas ao teto e às paredes por ganchos e correntes.
Sentados em assentos de madeira almofadados, dispostos em linha, viam-se apenas os Irmãos Maiores da Ordem do Graal que se achavam em Roma no momento: o cardeal Torquemada, com suas
faces de ira rígida; o cardeal Celius, sério como poucas vezes se vira, acariciando sua barba; o bispo Tharien, que tossia com constância; o silencioso Honorius, que recém-recebera a púrpura
cardinalícia; o cínico Jonathan; e, ao centro, com os dedos das mãos cruzados, o papa Inocêncio. De pé, dispostos à frente, os que tinham estado de joelhos: Sigmund, firme na postura
e no semblante; Cavalcanti, com os ouvidos eriçados; Miguel, que respirava fundo; Edgar, próximo de Antenor, menos severo do que em outras ocasiões; Fiódor, duro; Gilles, com um sorriso de pouco-caso;
Raja, tentando manter julgamentos e pensamentos alheios de fora; Saoshyant, ainda pensando em sua saída do corpo físico na noite anterior; Masamune, pálido e aparentemente tranquilo; e Bruno, com sua potência
receosa.
– Devem estar se perguntando por que os chamamos todos aqui, fazendo com que alguns deixassem de lado tarefas importantes. Mas devem também estar notando a ausência de alguém.
Por que chamaríamos todos menos um? – inquiriu o cardeal Jonathan em tom provocativo.
– Falta Heráclio. Talvez ainda não tenha conseguido voltar. Soube que foi encarregado de enfrentar as bruxas de Magdala na ilha de Hy-Brazil – respondeu Miguel.
– É provável que o navio dele tenha se perdido entre as brumas e afundado. – Gilles expandiu seu sorriso malicioso.
– Ele é justamente o motivo desta reunião. Porque foi enviado há seis meses e não deu mais nenhum sinal de vida. Portanto, supomos que ou foi morto ou capturado
pelas bruxas – interveio Honorius.
Miguel olhou para Cavalcanti, como para dizer: "você sempre subestimando o poder da magia. Veja só no que isso dá."
– Não existe a possibilidade de ter ocorrido outra coisa? – Gilles ergueu as sobrancelhas.
– Outra coisa o quê? – Honorius já intuía o que Gilles pretendia dizer, mas preferia economizar palavras sempre que possível.
– De uma deserção, por exemplo?
– Por que sugere isso?
– Piratas, na minha opinião, não podem ser bons cristãos.
– Quando nos tornamos cruzados, deixamos de lado nosso passado. – Edgar o encarou. – Está colocando em dúvida o julgamento do padre Honorius, todo o treinamento
ao qual somos submetidos e a sabedoria do corpo de Cristo. Não percebe a gravidade das suas acusações?
– Sei que nunca concordaria comigo, mas mesmo o Livro deixa claro que os eleitos serão poucos. – O francês e o inglês trocaram olhares afiados. – Os demônios
terão as almas da maioria.
– Este não é um momento para expor rusgas pessoais ou discutir questões bíblicas. Vamos diretamente ao ponto. – Torquemada falou e todos silenciaram.
– Santidade – dirigiu-se ao papa –, não acha que devamos enviar uma força maciça para aniquilar essas bruxas de uma vez por todas? Sem deixar que nenhuma escape, ao contrário do
que aconteceu no ano de nosso Senhor de 1942, quando de todo modo foi uma iniciativa imperial e não da Igreja?
– Leu bem o meu desejo, cardeal Torquemada. – O Sumo Pontífice respondeu. – Temos que agir rapidamente inclusive, antes que se transfiram e desapareçam.
– Iremos todos? – indagou Fiódor.
– De maneira nenhuma. Seria temerário e exagerado – disse Tharien. – Quatro serão o bastante.
– Com o perdão de Vossa Santidade, não acha que estejamos superestimando essas bruxas? – questionou Raja. – Elas têm nos rendido poucos incômodos.
Desde que Judá foi alvo do ataque do imperador Adolf, estão completamente ilhadas; e quando aparecem, pouco interagem com a população.
– Surpreende-me que você, Raja, que um dia foi vítima dos thugs, subestime as feiticeiras. Elas são tão perigosas quanto os seguidores de Kali, talvez mais.
Não pense que simplesmente por se moverem com discrição, de forma oculta, não evoquem terríveis demônios. – O cardeal Celius ainda acariciava a barba branca.
– Em parte concordo com Raja, pois os piores praticantes de magia que conheci eram homens. Acho que deveríamos antes cuidar de eliminar os magos das trevas – pronunciou-se
Bruno, que, desde que o assunto fora introduzido, não conseguia afastar da mente seu encontro com a bruxa Gabriela alguns meses antes. – Isso se reflete nos reis do Inferno: são quase todos do sexo masculino.
– Contudo, copulam com mulheres. São elas que oferecem seus ventres para o mal – replicou Gilles. – Deveria ficar mais atento aos detalhes, etíope.
– Pelos estudos que venho conduzindo, considero que não há diferenças substanciais entre bruxas e bruxos. – Foi a vez de Saoshyant. – São de igual
modo nocivos e perigosos. As feiticeiras podem ser até piores, pois não faltam mulheres manipuladoras e prostituídas nos domínios inferiores, que a princípio seduzem, afagam, e depois degolam
o amante ingênuo quando este adormece.
– Se não me engano, Heráclio viveu em pecado com uma mulher assim antes de se tornar um de nós. – Sigmund observou.
– Não deveríamos condenar nosso semelhante quando este se arrepende e busca um novo caminho – opinou Antenor. – Afora que me pergunto sempre se não existem
outros meios que não a força, especialmente contra mulheres.
– Está se deixando iludir por aparências, pela falsa fragilidade que elas exalam. – Edgar meneou a cabeça para os lados. – São flores cheias de
espinhos, muitos dos quais venenosos. Vejo-me obrigado a discordar de você, meu irmão. No passado, sofri na mão dessas feiticeiras.
– Sei disso. Mas há mulheres e mulheres. Assim como nem todos os homens são santos, nem todas elas são pecadoras.
– Cavalcanti, Masamune – Torquemada surpreendeu os dois mais silenciosos e reflexivos –, encarrego-os de conduzirem essa tarefa. Vossa Santidade escolherá os outros
dois.
Estava escuro. As candeias pareciam ter se apagado, mas continuavam acesas.
As estátuas dos quatro arcanjos, cada qual em uma extremidade, davam a impressão de tremular.
– Por que nós dois? – A pergunta de Cavalcanti, antecipando-se ao papa, pareceu assustar Miguel, que estava ao seu lado, e fez o Inquisidor franzir o cenho. – Não
se ofenda, Eminência. É apenas por querer saber a razão, sem questionar seus motivos. – Esta declaração apaziguou os ânimos.
– É simples. Para lidar com as bruxas, são necessárias ao menos duas mentes ponderadas, que pensem antes de agir, que raciocinem, planejem e tenham um tipo de caráter
que não se deixa manipular.
Sigmund desviou o olhar dos padres por algum motivo.
– Bruno precisa conhecer melhor o lado negro das mulheres. Sem ironias, meu rapaz. – O papa sorriu ao encarregá-lo. Uma piada infame do ponto de vista do etíope, ainda
que fosse o Sumo Pontífice a fazê-la – Seus companheiros o ajudarão nisso. Força não lhe falta. Será uma jornada de aprimoramento interior. E já ouvi muito falar na Espada
do fogo do Espírito Santo: acho que uma espada assim, e um pouco de paixão por Cristo, de Fé, são elementos sempre necessários em missões como esta. É preciso não só
cortar como queimar os restos das bruxas, o que no passado o imperador Adolf não fez. Por isso o escolho, Miguel.
– Fico extremamente honrado, Santidade. – O ex-cavaleiro de Castela se inclinou em reverência.
– Também aceito a missão e a oportunidade de aprender. – Bruno fez o mesmo na sequência, ainda que por dentro tivesse ficado um tanto ressentido por diversas
razões.
– Quanto aos demais, serão encarregados de outras tarefas. Há pedidos emergenciais em inúmeras cidades e aldeias. Demônios andam à solta por todo o mundo
– complementou Honorius.
Masamune tocava a empunhadura de sua katana e recebeu um olhar rápido de Cavalcanti, na velocidade certa para ser entendido.
"Bem que queria conhecer essas bruxas. Mas abordá-las em grupo seria difícil. Como poderia fazer uso da minha magia e surpreendê-las? Eu seria
o mais adequado para triunfar. Pena que eles não possam saber disso", refletiu Saoshyant, ao mesmo tempo em que rememorava a experiência da noite anterior.
Acordara e tentara se levantar da cama, mas seu corpo estava entorpecido.
A princípio, ficara em dúvida se estava dormindo ou acordado, acreditando tratar-se de um pesadelo.
Ao perceber que se achava desperto, questionara-se se fora amarrado por demônios.
Entrementes, lembrara-se de alguns relatos a respeito da paralisia do sono, tanto de físicos como de místicos. Para estes últimos, era um dos possíveis estados anteriores
à viagem da alma ou saída do espírito, passível de ocorrer após um êxtase, com a prática de exercícios meditativos ou mesmo de forma espontânea.
"Se estou para sair do corpo, tenho de relaxar. Não é em qualquer noite que se tem um privilégio desses. Quem sabe possa até reencontrar
Helmont, ou conhecer o Inferno e o Paraíso!" Devagar, pedindo calma a si mesmo, Saoshyant esvaziara a mente e aos poucos fora tomado por uma leveza nas pernas, que foram as primeiras a se
levantar, com uma suavidade inaudita, seguidas pelos braços e, por fim, pelo tronco.
Ao levitar por cima do corpo, percebia-se, mas não enxergava nada, submerso na escuridão.
Recuperara a vista graças a uma luz azul que se manifestara à sua volta e permanecera. Não se deixara ofuscar para conseguir descer. Ficara ao lado do corpo adormecido
na cama. Ao pensar em tocá-lo, recobrava a sensação das mãos. Mas ainda não era hora de retornar, pois tinha muito a aprender naquela nova realidade.
Enxergava em todas as direções e era capaz de flutuar pouco acima do chão, o que lhe proporcionava uma sensação de liberdade.
Nos domínios limpos da alma, não havia dores, cansaço, preguiça ou mal-estar. Imperava uma calma sem brechas para a pressa ou o desespero.
Tivera sempre um certo medo, ao pensar em sair do corpo, de encontrar demônios e magos hostis do outro lado, porém na ocasião não vira nem percebera ninguém
além da luz que, mesmo no plano físico sendo noite, preenchia toda a sua morada. A um certo ponto, não era mais a azul do início, e sim uma dourada e refulgente.
Terminaria por se entusiasmar, perder a concentração e retornar ao corpo, sem, contudo, se esquecer de uma experiência tão vívida, "a prova definitiva, a meu ver, de que o mundo espiritual não é dominado pelos demônios. Atualmente eles estão mais na Terra. Só lamento não ter encontrado anjos, santos
ou magos da luz."
***
Miguel, Cavalcanti e Masamune já eram conhecidos de longa data. Mas ainda não tinham interagido muito com Bruno. Para o primeiro, seria um prazer conhecê-lo mais de perto
e verificar se o que diziam sobre sua força era verdade, diferentemente de Gilles, que encarava o etíope com preconceito. Não compreendia como a Igreja pudera aceitar alguém de um povo tão
bárbaro como cruzado. Inclusive já expusera isso ao cardeal Jonathan, recebendo a seguinte resposta:
– Não são a origem e a cor da pele que fazem um homem, e sim suas ações e seu espírito. O que seria de você se fossem analisá-lo pela falta
de cor? O que ele tem em excesso, você quase não possui. – A provocação deixara o albino sem argumentos e um tanto enraivecido, se bem que não o demonstrara; esboçara um sorriso
de canto.
Com relação a Cavalcanti, o que provinha do africano, por meio de sua leitura espiritual, parecia-lhe bom e dinâmico, uma alma corajosa, se bem que com algumas frestas e
fragilidades por baixo do corpo de rocha e ébano, ao passo que Masamune preferia se preocupar consigo mesmo. Dos parceiros, aceitaria o que viria, só insatisfeito com a Igreja em tempos recentes por lhe dar menos
explicações do que gostaria, incomodado com as ordens, conquanto ocultasse as desconfianças.
– O que o anda perturbando? Talvez seja o mesmo que me incomoda. – Uma vez terminada a reunião com os padres, o samurai cristão recebeu em seus aposentos a visita
do toscano.
– Você é mesmo muito bom para captar estados de ânimo e perceber o que nos circunda.
– Não gostou da ideia de caçar bruxas?
– Quando entrei para a Igreja, Lorenzo, foi para ajudar e proteger pessoas, não para matá-las. Bem ou mal, seja lá o que fazem, bruxas são seres humanos, enquanto
meu desejo sempre foi o de exterminar demônios, os inimigos e opositores da humanidade. E não me parece que a Ordem de Magdala, se há algo que justificaria sua dizimação, seja evocadora de
criaturas do Inferno. Pelo que li a respeito dela, suas integrantes estão mais interessadas na interação com os elementos da natureza, que, a meu ver, não são nem bons nem maus, apenas perigosos,
ou delicados, a depender da qualidade dessa interação. As bruxas de Magdala não são profanadoras de relíquias, como o imperador Adolf as acusava. Não há nenhuma evidência
quanto a isso. Contudo, embora tenha encontrado boas fontes tanto de dentro da Igreja como de fora, ainda não as estudei todas, não me aprofundei no assunto o tanto quanto gostaria. Não posso elaborar
um julgamento justo. Portanto, estou indo cumprir uma missão cuja raiz desconheço, cujo cerne me parece distante, e nenhuma explicação ou justificativa válida e com provas concretas me é
dada. Alguns homens podem ser piores do que os demônios. Inclusive certos homens da Igreja. Não consigo mais confiar, por exemplo, em Torquemada, que não se cansa de promover suas torturas, nem no papa,
que aprova as atitudes dele.
– Entendo perfeitamente o que diz e como se sente, Masamune. Assim como você, não me tornei um cruzado para promover execuções arbitrárias e ser uma
espada da Santa Inquisição. Aliás, os atuais meios da Inquisição sempre me pareceram torpes, mesmo antes de ter o sangue de Cristo. E o próprio Torquemada me colocou entre os doze,
eu, um humanista, para dar mais humanidade ao grupo e à Igreja. Só que nada mudou, muda nem mudará. Por isso, sinto-me ludibriado.
– Perdi amigos para um demônio. Por esse motivo optei por uma vida de devoção, batalha e penitência. Lutar contra bruxas exiladas em uma ilha distante, que não
interferem em nosso mundo, não me parece justo nem urgente.
– Sobre a interação com os elementos, você citou, sem dar nome aos bois, e acho que entendo o porquê disso, a magia elemental. Percebo que temos em comum uma
opinião heterodoxa. Também não considero a magia a priori como uma obra do demônio. Acredito que o que chamamos de milagres seja magia, ou vice-versa. São palavras diferentes para um mesmo
dom divino. Há abades e bispos que foram magos. São numerosos os tratados escritos por eles sob pseudônimos.
– Minha visão é certamente menos aprofundada do que a sua, mas concordo que é provável que a magia sombria seja a deturpação, não a regra.
– Ouvir isso é gratificante. Com Miguel não posso falar muito sobre o assunto, já que ele é intransigente com os magos, afinal teve uma experiência terrível
com um.
– Pelo que percebi, você é dos poucos de nós, se não o único, que não sofreu grandes perdas, que não foi vítima de alguma influência
demoníaca.
– De fato. Talvez por isso, tenha uma certa facilidade para permanecer isento e não me envolver em disputas passionais a respeito de hereges, bruxos e criaturas malignas.
– Admito que isso me interessa, pois me leva a crer que os padres vermelhos não fazem nada por acaso. Entre os doze, nunca escolhem tipos parecidos. Em algo um é destoante
do outro. A equipe se complementa em alguns aspectos, desenvolve conflitos em outros.
– Mesmo sendo formado por doze homens somente, é o melhor exército do mundo.
– Só que não são realmente doze. Há muitas coisas que me intrigam, como os desertores.
– E os desaparecidos, como o caso de Barbarossa e agora Heráclio, a respeito dos quais não há sequer notícias de que foram possuídos ou mortos.
– Se ainda estão vivos e livres, são desertores, como Leovigild e Ptolomeu… E há outra coisa: além do que já comentamos, também estranho
o fato de que nunca um cruzado tenha sido exorcizado com êxito, de que jamais se tenha recuperado a alma de um possuído. Ao menos na Terra. Raja é um caso diferente e peculiar.
– Nisso você tem razão. É algo intrigante, mas que no momento não temos como esclarecer. O que Torquemada já me disse é que hoje em dia não
se tentam mais exorcismos de cruzados possuídos porque todas as tentativas no passado terminaram em mortes: para os exorcistas, que foram talvez entregues à noite da alma... – Uma noite profunda era aquela
em que se achavam… que Bruno, da janela de seu quarto, contemplava sozinho, entregue a pensamentos conflitantes.
Alguém bateu à sua porta. Ao abri-la, não foi uma total surpresa se deparar com Miguel:
– Sempre é bom conversar um pouco antes, se entrosar, com quem será um novo companheiro de missão. E, espero que não me considere um intrometido, captei pensamentos
seus durante a reunião. Percebi o quanto odeia magos, bruxos e derivados.
– Esse é um dom seu, então não o culpo. Entre.
– Obrigado, irmão. – Deu-lhe um tapa no ombro antes de entrar.
– Veio para dizer que temos isso em comum? – Fechou a porta.
– O meu passado envolve isso diretamente. Perdi a mulher que amava para um desses monstros.
– Então acho que temos realmente algo em comum. Passei pela mesma situação.
– Lorenzo Cavalcanti é meu melhor amigo, mas às vezes um pouco turrão. Acha que existem bruxas e magos bons, por isso evito me abrir, porque sei que vou ouvir que
existem exceções. Só que nunca as vi. Nesse aspecto, acho que poderemos nos entender melhor.
– Só ainda não tive experiências ruins com bruxas. Meu ódio se dirige todo para os homens que praticam sortilégios.
– Do meu ponto de vista, só muda a casca. Espero não estar incomodando…
– Não está. Também nunca converso sobre esse assunto com ninguém. Às vezes sinto falta, por isso gosto de olhar para o céu. É como se
de alguma forma ele me ouvisse. – Afastou-se, de volta para perto da janela. O espanhol se sentiu mais à vontade e se sentou em uma cadeira.
– O que lhe aconteceu?
– As boas maneiras pediriam que falasse antes. Afinal, foi quem deu início a esta conversa.
– É verdade! – Deu uma risadinha.
– Para começar, posso dizer que um dia fui um escravo.
– Sinto muito. É de se lamentar o que fazem em algumas de nossas ilhas com a gente do seu povo.
– Meu próprio povo abriga inúmeros traidores, que humilham e vendem seus irmãos. De todo modo, na verdade hoje nem eu nem você pertencemos a qualquer povo.
Somos membros do Corpo de Cristo.
– É verdade. Só que isso não apaga o nosso passado. Com todas as suas manchas. – Miguel esboçou um novo sorriso.
Teriam muito o que conversar.
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