Kyoto, a capital do império japonês, conhecida no ocidente como Meaco – de miyako, ou seja, capital –, enquanto o Japão como um todo era chamado de Cipango, exibia com clareza as marcas do passado xintoísta e budista mescladas à supremacia cristã.
O Kinkaku-ji, o Templo do Pavilhão Dourado, mostrava em seu telhado, além da fenghuang dourada, uma cruz. Seus belíssimos jardins, sem nenhum elemento artificial – a não ser por algumas imagens de Jesus gravadas nas pedras –, simbolizavam a magnificência criadora de Deus.
O Kiyomizu-dera, ao leste, na encosta das montanhas, tinha seu torii1principal encimado por pequenas esculturas, em vermelho, dos doze apóstolos, cujos rostos e corpos rechonchudos lembravam, no entanto, a iconografia budista.
O Ginkaku-ji, o Templo do Pavilhão Prateado, fora mantido quase intacto, a não ser pela cruz em seu topo.
O Heian Jingu deixara de ser xintoísta e de louvar a família imperial para exaltar o Cristo e a Virgem. Representações do Filho e de Nossa Senhora eram carregadas no mikoshi, o gracioso templo portátil, durante o Jidai Matsuri, uma das mais importantes festividades do império.
O Fushimi Inari Taisha fora preservado na base da montanha Inari, seu santuário interior acessível uma vez superados centenas de toriisem sequência, com inscrições que haviam sido modificadas no passado recente para citações bíblicas, a famosa escultura da raposa mítica – a kitsune – com a chave mantida para simbolizar São Pedro com a chave para os Céus, e por isso esse animal se tornara um dos símbolos do papado no Japão.
Nas ruas, o vestuário tradicional não fora muito alterado com a prevalência do cristianismo, apenas alguns quimonos apresentavam motivos religiosos; e mesmo estes misturavam elementos nipônicos tradicionais com motivos sacros, vide representações do Cristo que montava dragões serpentinos.
O mais comum entre os homens era encontrar batas de seda largas e de mangas compridas. A seda masculina tão dura que suas mangas se projetavam feito velas.
Os samurais usavam casacos de ombros largos e sem mangas, fáceis de colocar, como aquele de padrão de folhas de pinheiro sobre um quimono verde que passou ao lado de Honmaru, que acabara de chegar à cidade e encarava a intromissão da imagética cristã invasora com desprezo.
Não nutria apreço pela doutrina de Cristo. Julgava-a digna apenas dos fracos, pois não valorizava, a seu ver, a verdadeira honra. Talvez por isso cativara tanta gente, afinal os fracos e covardes sempre seriam a maioria. Como em sã consciência um samurai poderia ceder a outra face?
Aquele homem era um ronin, um samurai errante. Seu daimyo caíra em desgraça. E mesmo assim nunca se deixaria espancar pelo inimigo. Se fosse para aceitar um destino, que ele mesmo cometesse o seppuku. Não o realizara porque seu senhor não se mostrara digno de tamanha honraria e por outras responsabilidades e promessas a cumprir.
Ao lado do samurai de quimono verde, reparou em outro, com blocos de cores contrastantes sob a sobreveste azul, e um leque de madeira nas dobras da roupa, que sorria ao dizer algo ao companheiro. Deviam pertencer à corte imperial, como denunciavam seus dentes pretejados, costume dos homens de posição elevada.
Ao observá-los, Honmaru se lembrou do rosto irritante de seu daimyo, que sempre usava na cabeça um gorro coberto de gaze de seda preta revestido com laca, mantido estável por cordões de papel amarrados sob o queixo; pena que o dono não fosse tão estável quanto.
O ronin era um homem alto para os padrões japoneses, chegava a um e oitenta, os cabelos pretos muito volumosos e indisciplinados amarrados em um rabo de cavalo, a armadura parcial – faltavam o elmo, uma ombreira e alguns outros pedaços – montada sobre um quimono branco e um hakama preto bem encardidos.
Sua katana e sua wakizashi2, em compensação, brilhavam quando extraídas; e suas bainhas exibiam tigres e dragões intimidadores como a expressão de seu dono, que amedrontava a maioria dos que passavam perto, afastando as pessoas da multidão. Atraía apenas os olhares de desafio de alguns outros bushis3, que provavelmente também eram ronins, aos quais não dava a menor importância.
Seu verdadeiro propósito? Encaminhava-se a uma casa em um beco que por dentro revelou ser uma arena de sumô, onde eram feitas apostas. Os lutadores haviam acabado de jogar sal no dohyo – a arena circular – e estavam prestes a iniciar a luta. Firmaram os pés no solo como gigantes fixando pesados toriis. O público, quase todos de pé, afinal alguns poucos tinham direito a assentos, vibrava. Honmaru se aproximou de um sujeito de preto, baixinho e com um sombreiro de palha, e ofereceu uma boa quantia pelo lutador Tenji.
– O senhor tem certeza? Tenji não vence um confronto há meses! Irá jogar o seu dinheiro fora.
– Quantos apostaram nele? – questionou o ronin.
– Hoje ninguém. Só o senhor. Ele está fora de forma. Seria uma tolice, um desperdício, investir qualquer quantia nele.
– Insisto. Dez no Tenji.
O trambiqueiro liberou um risinho cético e desviou o olhar.
Honmaru fechou os olhos e, para o espanto de todos, o azarão adquiriu uma força prodigiosa e com facilidade empurrou o oponente para fora da arena.
O ronin reabriu os olhos: a luta estava terminada e multiplicara seus ganhos.
– Incrível! O senhor é um homem de muita sorte. Pode apostar de novo se quiser.
– Claro. É o que vou fazer.
Desta vez o sujeitinho ficou um tanto assustado com o semblante de Honmaru. E se estivesse lidando com um oni disfarçado? Seria melhor não rir mais dele e não contrariá-lo.
No fim das contas, o ronin saiu, ao pôr do sol, com dinheiro suficiente para comprar uma nova armadura e ainda passar a noite em uma boa hospedaria.
No entanto, precisava visitar uma certa amiga. Passar alguns minutos no karyūkai, um mundo que não era o seu, mas onde vivia alguém que fizera parte de seu mundo.
Keiko era uma maiko, uma gueixa aprendiz, e vivia em uma das okiyas da principal cidade em flor de Kyoto. Para entrar em uma daquelas casas, teria que gastar todo o dinheiro que obtivera, mas isso não seria problema, pois não tinha a intenção de se livrar tão cedo de sua armadura nem de dormir naquela noite.
Ao entrar na okiya onde sabia que ela se achava, deparou-se com um ambiente de muita paz e refinamento. Ele era um bruto, um bicho do mato, deslocado em um cenário frequentado pela fina-flor da nobreza da cidade; e as gueixas daquela casa eram de fato como flores, belas nas peculiaridades de suas pétalas, e como salgueiros, flexíveis, fortes e graciosas: isso nas palavras da fundadora Mineko Nakamura, que estampavam a entrada. Não por acaso foi fitado com um misto de curiosidade e nojo pela gueixa ao fundo, que tocava uma flauta de bambu, e por outras duas, que serviam chá e recitavam poesia para um par de convidados. O movimento ainda era tímido no final da tarde, porém à noite seria intenso.
– O que deseja, senhor? – Uma mais velha, a que estava na recepção, se adiantou, tentando disfarçar um certo desconforto.
Elegante, usava um manto fluido sobre um quimono branco amarrado por uma faixa vermelha ornada em ouro, os desenhos produzidos por uma combinação de tintura, bordado e folhas de ouro aplicadas no local.
– Gostaria de um tempo com Keiko Iwasaki.
– Keiko ainda é uma aprendiz. Tem certeza que deseja a companhia dela? Temos outras mais experimentadas, menos desajeitadas. – Talvez desejasse poupar a novata da fera que via diante de si, e que poderia se tornar perigosa.
– Eu já a conheço e quero ela. – A linguagem pouco polida e direta denunciava que se tratava de um samurai dos mais rústicos. Antes que começassem as tentativas de humilhação, mostrou quanto tinha. – Me leve até ela.
– Está bem, meu senhor, se é a sua preferência, embora não saiba de onde se conhecem, já que ela está atendendo há muito pouco tempo e nunca vi o senhor. Aviso que ela mal sabe tocar o shamisen4.
– Por acaso você é a onee-san dela? Parece muito exigente com a moça.
– Apenas quero manter a qualidade do atendimento em nossa casa. Não costumamos adquirir meninas, mas estávamos com poucas garotas. Às vezes me arrependo, acho que deveríamos ficar com menos, afinal não tem as mesmas qualidades das outras. Se o senhor a conhece, deve ser do mesmo lugar de onde ela foi vendida.
– Não quero dar detalhes.
– Como preferir.
Honmaru estava com vontade de decapitar aquela mulher arrogante e que andava feito uma garça, mas precisava se segurar. Por Keiko, que se achava no andar de cima.
Tinha catorze anos, um rosto de menina e, assim que ficaram a sós, disparou para abraçá-lo, sem se importar com a maquiagem que ainda não estava pronta.
– Por que você veio? Não adianta! Não vai conseguir me tirar daqui nunca. E, apesar de tudo, eu estou bem. Apesar de mesmo assim agradecer a sua visita, Honmaru-san.
– Desde que o daimyo caiu, nossos destinos ficaram caóticos. Mas não pense que me esqueci de você e da promessa que fiz ao seu pai. Não há caos que suplante minha honra.
– Sei que nunca serei uma grande geiko. Mas ao menos aqui tenho comida, conforto. Você nunca vai poder cuidar de mim. Tem o seu próprio rumo. Esqueça-se do que prometeu ao papai. Não é sua obrigação. E mesmo que eu tenha sentido muita saudade, somos diferentes. É melhor que você só venha me visitar. Estará cuidando de mim, de alguma forma.
– Entendo que depois que veio para cá tenha ficado com medo do mundo. Mas não são todos que querem machucá-la. Podemos ter juntos uma vida diferente.
– O que você entende por uma vida interessante não é o que eu entendo. Aqui estou aprendendo música, dança, poesia! Estou gostando muito. Se pudesse, teria tudo isso: você, a dança, a música e a poesia, mas...
– Mas como acha que não pode, fica com a dança, a música e a poesia!
– Não sou eu quem acha. É assim. Mas não imagina como fiquei feliz por revê-lo.
– Posso ter o dinheiro que quiser e lhe dar conforto também.
– Só que não é o que você quer. Depois do fim do daimyo, estou ciente de que nunca mais vai querer se fixar em nada. Lembro que essa foi a promessa que fez para si mesmo, contraditória em relação à que pronunciou para o meu pai.
– Não quero mesmo nunca mais me apegar a uma terra ou a pessoas que vivam nela.
– Minha meta não é perambular pelo Japão. Quero paz, Honmaru-san. E você não está em paz, vejo isso nos seus olhos. Como poderia partir com você?
– Talvez hoje eu fique em paz.
– Como?
– Estou indo para o templo dos monges tengu. Vou recuperar a espada que há várias gerações pertenceu à minha família. Chegou a hora.
– Do que está falando? Ficou louco? Aquela espada é amaldiçoada, se esqueceu? Os seus avós a doaram ao templo para que nunca mais voltasse para o mundo!
– Eles cometeram um erro. Depois que a espada foi doada, nada mais deu certo para a minha família. Qual é a maldição, afinal? Acho que é ela estar longe da minha família.
– E vai fazer isso de que forma?
– Você sabe muito bem.
Keiko tentou persuadi-lo de diferentes modos, mas não houve meio.
Ao sair do hanamachi, Honmaru tinha certeza do que precisava fazer e do caminho que o levaria a uma nova vida. "Uma menina nunca seria capaz de entender", e o templo dos monges tengu ficava fora da capital, em uma área de verde esplendoroso, mas a caminhada que tinha pela frente seria o de menos.
Esses religiosos haviam retirado sua denominação de tradicionais figuras do folclore nipônico, das quais reproduziam os rostos de longos narizes em suas máscaras para demonstrar que abriam mão de toda a vaidade, como se esta clareasse o corpo, porém escurecesse a alma.
À noite, o laranja do teto e paredes do templo parecia reluzir com ainda mais força graças a altas tochas, candelabros e lâmpadas a óleo dependuradas; e no alto da pagoda havia uma cruz fincada na cabeça da imagem de um tengu.
A espada da qual Honmaru falava era a lendária lâmina do oni-dragão. Contudo, do seu ponto de vista, maldição e demônios diziam mais respeito a um pai que tivera que vender sua filha única para lutar pela sobrevivência da esposa doente – que depois acabara não se dando –, do que a espíritos malignos e destinos manchados para sempre.
– O senhor não pode passar agora. Peregrinos e visitantes em geral só amanhã a partir da hora terça. Os demais monges estão em oração. – Foi detido na entrada por um guarda-monge; e havia outro ao lado.
Vestiam armaduras de placas de madeira e usavam chapéus cônicos de palha, as faces mascaradas. Aqueles eram anacoretas cristãos para os quais os tengus simbolizavam figuras angélicas. Do mesmo modo que se podia representar um querubim como um touro, um leão ou um ser místico de quatro cabeças e Jesus como um cordeiro. Alegavam então abrir mão da vaidade, mas se comparavam a anjos?
Em se tratando de armas, praticavam a arte do bo, longos bastões com os quais eram muito habilidosos.
– Preciso entrar no templo. É urgente. – "A minha alma já está manchada de sangue e a minha honra ferida, mas ainda não se encontra destroçada. Mesmo sendo um ronin, acredito nos princípios do bushido. Se não acreditasse mais, poderia cometer o seppuku. E talvez deva cometê-lo, para ser coerente comigo mesmo, se bem que seria muito para o daimyo. Ainda não chegou a hora, Keiko-chan."
– Sentimos muito. Isto não será possível.
O samurai sem senhor atacou sem mais rodeios e isso não os surpreendeu. Estavam prontos desde o início, tanto que se esquivaram dos ataques com a espada e tentaram atingi-lo com os bastões. Honmaru, no entanto, era tão hábil nos desvios e ágil nos saltos quanto os dois monges.
Seguiu-se um confronto veloz em que o bo de um foi cortado, enquanto o outro pareceu ter conseguido encurralar o ronin: contudo, este lançou um kiai e, ao projetar sua energia com a voz e os olhos, paralisou o adversário. Foi o suficiente para lhe permitir cortar o segundo bastão e degolar o monge.
Anticristão, não tinha a mínima piedade dos que cultivavam uma religião que, a seu ver, estava pouco a pouco arrancando a identidade de sua terra. Reduzira o imperador a um mero soberano temporal e o shogun não passava de um braço armado da Igreja.
Menos ainda teria compaixão de ascetas. No caso de um cristão pai de família, pensaria duas vezes em consideração a filhos ou esposa, diferente o caso de um covarde exilado do mundo.
"Se o meu senhor caiu em desgraça, pelo bushido eu deveria estar morto com ele agora, tê-lo seguido na desonra, pois de qualquer forma fui desonrado. Mas ele não merecia o sacrifício da minha vida. E também tenho outros assuntos a resolver. Talvez consiga restaurar minha honra com a vida! Ou restaurar não, porque ela está sim ainda de pé, mas recompor o que se partiu e, se precisar levar adiante o harakiri, que seja depois de ter cumprido a minha promessa. A palavra faz parte da honra de um samurai", apesar da mente confusa, não teve dificuldades para abater mais monges que apareceram para defrontá-lo. Retalhou-os com sua ira e entrou no templo rumo ao santuário principal, onde a espada estava guardada junto com as relíquias do mártir jesuíta português Francisco Branco, em tempos recentes elevado a santo, mantidas juntas para que o poder maligno fosse barrado pelas virtudes da santidade.
Quando tivesse a espada do oni-dragão, saberia o que fazer. Talvez fosse com ela que cometeria o seppuku, assim que tivesse conduzido Keiko a uma nova vida, e morreriam unidos, seu nome e a espada, enterrados ou cremados em um mesmo lugar, encerrada assim com honra a trajetória de sua família.
– Fora daqui, seu louco profano!
O ronin, sujo de sangue, com dezenas de corpos às suas costas, avançava para enfrentar o abade Agon: a luta mais difícil estava para começar, diante das relíquias – seladas em um vaso negro marcado por uma cruz branca – e da tão almejada espada, que repousava sobre um altar de pedra.
Seu punho e sua bainha, tingidos de preto e vermelho, pareciam feitos da carne, do sangue e da pele de um demônio.
Na empunhadura, adornada por desenhos de dragões em fúria, projetavam-se garras.
– Eu que digo: fora daqui, cristão hipócrita.
– Onde reside a minha hipocrisia? No simples fato de ser cristão? Isso quer dizer que, para você, os homens não são livres. – Tratava-se de um sujeito de rosto duro, com por volta de quarenta anos, olhos rijos e, sem sombreiro ou máscara, a cabeça raspada.
Manejava, diferente dos outros, não um bo, mas sim uma lança com a ponta em cruz.
– Vocês não deveriam ofertar a outra face? Vejo que se defendem. Além disso, essa arma...
– É afiada? Pois não costumo usá-la, a não ser quando protejo algo além da minha vida. Não posso falar pelos meus companheiros de fé, mas, falando por mim, não estou me defendendo. Defendo o que você quer roubar de nós.
Estudavam-se e, enquanto falavam, as ondas, faíscas e chamas de ki iam e vinham, invisíveis aos olhos, sentidas pelas almas. Os corpos permaneciam imóveis, porém em posições adequadas para o bote, feito serpentes prestes a abocanhar uma presa. A questão ali era que não havia presa, somente duas cobras cheias de veneno.
– Como tem coragem de falar em roubar? Sou Honmaru, neto de Munisai. Será que isso não lhe traz nenhuma lembrança? Esta espada sempre pertenceu à minha família, desde muitas gerações.
– É nisso que quer acreditar, não que seja verdade. Esta espada é mais antiga do que quase todas as famílias que ainda existem no Japão. Você não conhece a realidade, é um inconsequente. Ela passou de um clã a outro após sucessivos duelos sangrentos, até que o seu decidiu livrar-se dela. Por que a quer? Pretende reiniciar o ciclo de matanças? A próxima alma sugada por ela poderá ser a sua.
O ronin não respondeu verbalmente, apenas emanando seu ki alerta.
Devido à escuridão em volta, às candeias prestes a se apagar com o vento, o abade Agon parecia maior do que era.
Além disso, não hesitava, os olhos fixos para descobrir as menores brechas. E se a razão estivesse com aquele monge maldito?
Não, não podia ser. E ainda que aquele sujeito estivesse falando a verdade, não havia mais como voltar atrás, suas mãos cada vez mais sujas de sangue, a espada diante de seus olhos, inevitáveis a atração e o fascínio; precisava dela de qualquer forma.
Não piscaram mais. Se persistiam outros monges vivos no templo, nenhum deles apareceu para interromper o duelo, que começara se dando no interior dos rivais. Bastou Honmaru se distrair por um segundo, olhando para os pés de Agon, que este partiu e fez um corte no pescoço do samurai com um dos braços afiados da ponta da lança.
Não! Honmaru não se distraíra. Fora uma previsão. Uma antevisão do que aconteceria caso ficasse desatento. Os robustos pés do abade pareciam se movimentar posto que estivessem imóveis, seu corpo na aparência desprotegido, sem armadura, descalço e recoberto por uma túnica cor de açafrão, mas sua proteção era seu ki, que trocava átomos com o ar, a respiração harmonizada ao ritmo das partículas físicas e mentais, de diversas matérias e pensamentos, que circulavam pelo ambiente.
O ronin liberou um kiai e projetou sua intenção, concentrando-se no espaço entre seus olhos para paralisar ou atrapalhar o oponente, o que se revelou infrutífero: o monge, como que quebrando as paredes impostas, veio a toda velocidade em sua direção.
O samurai se agachou, a ponta da lança passou raspando e, evitado o golpe dessa forma, Honmaru se ergueu ao mesmo tempo que movia a espada.
Cortou o pescoço de Agon, que tombou morto.
A espada do oni-dragão estava agora ao alcance das suas mãos. "Até que enfim!" As outras lutas o haviam cansado fisicamente. Esta última somara ao cansaço físico uma exaustão psíquica. Apesar da proximidade, mal tinha forças para chegar ao altar e capturar a lâmina ansiada. Teve de fazer isso com um tremendo esforço de vontade. Aproximou-se bem devagar. "Não sei por que, mas estou com um pouco de medo. Parece até que vou ser possuído por alguma coisa… Quanta bobagem! Só vim recuperar o que é meu por direito."
Segurou a empunhadura com vigor e as garras que esta possuía se cravaram em suas mãos, que sangraram. Contudo, não sentia dor. Pelo contrário, um êxtase sibilante teve início em seus ouvidos, com vozes em baixo volume que lhe acarinhavam o crânio, sem que lhe parecessem uma perturbação. Espalharam-se por seu corpo na forma de outras percepções, com uma sensação de realização e prazer que de seu baixo-ventre se difundiu para as zonas erógenas.
O sangue que escorreu das mãos fervilhou a olhos vistos, um discreto susto, que ficou de lado no momento em que o fluido corporal coagulou.
A certeza do poder não demorou a predominar e logo estava com as forças renovadas, o cansaço desaparecera, não havia o menor sinal de desgaste no corpo ou na mente. O sangue dos monges secou e sumiu, permitindo-lhe deixar o santuário com relativa tranquilidade, sem se sentir incomodado pelas vozes: "Você se acha muito pequeno. Precisa acreditar mais em si mesmo!" Pronunciavam mensagens de encorajamento, entre outras coisas. "Basta querer. Querer é poder. Tudo o que você deseja está à sua disposição, tudo pode ser realizado. Pense que irá conseguir e conseguirá. Esse é o segredo."
De volta a Kyoto, encaminhou-se na direção do hanamachi depois de deixar para trás aquele que se tornara um templo de mortos, abandonado e silencioso. Um contraste gritante com a cidade, em movimento em plena madrugada, ao menos no primeiro bairro que atravessou, onde a prostituição e a bandidagem, sob a égide dos yakuzas, eram as atividades principais. "Está vendo essa gente? Vai deixar isso impune? Ladrões livres pelas ruas, homens casados fazendo pouco-caso da família", insinuou-se uma voz rouca e ciciante.
– Não é da minha conta – retrucou o ronin, que só pensava em libertar Keiko.
"Quantas vezes os homens irão dizer isso enquanto o crime e a falta de virtude se espalham, degenerando este reino? Você não condena o cristianismo? Veja o que ele está fazendo com o Japão!" Aquelas vozes agora começavam a incomodá-lo. "O bushido é tão pobre e limitado? Acredite, você pode mudar o mundo por meio da virtude", cogitou retalhá-las com sua nova velha espada, que desembainhou: contudo, sem querer, tinha cortado o braço de um passante.
– Seu maluco! Quem é você?! – "Isso! Isso mesmo, Honmaru! Puna esses pecadores! Esse era um ladrão imundo!" Para seu espanto, seu corpo passou a se mover sozinho e a espada foi causando terror pelo bairro. Decapitava e cortava membros de dezenas de pessoas. Sua agilidade, que já não era pouca, triplicara. Alguns ronins e mesmo samurais com senhores, que passavam por aquela zona para se divertirem, não foram páreo em suas tentativas de detê-lo. Honmaru de um momento para o outro ia parar no telhado de uma casa e de lá despencava desfechando golpes indefensáveis, com um semblante em pânico a despeito dos movimentos assassinos.
Um único guerreiro conseguiu notar que seu semblante não condizia com aqueles atos:
– O que foi, Masamune? Vamos ficar parados? – indagou um samurai de face agressiva, pronto para atacar. – Vamos logo. Você não fez nada durante a noite toda. Não vai querer fugir!
– O ki violento vem da espada, não do homem. – Masamune, trajado com um quimono branco e um hakama negro, muito limpos, e trazendo consigo duas katanas, seus cabelos compridos chegando presos quase até a base da coluna, pertencia àquela espécie de guerreiro que só se movimentava para o combate em ocasião de perigo extremo.
Priorizava encerrar as batalhas antes que estas se iniciassem, ali com seus dois melhores amigos na zona para acompanhá-los e conversar – pouco –, afinal não bebia saquê, apenas chá, e também não saía com prostitutas. Preferia a companhia de uma gueixa, algo que seus companheiros julgavam tedioso.
"Você é o homem por quem esperei por tanto tempo. Falta pouco para que eu esteja livre, e você tem a sede de sangue necessária para completar o processo. Tantos mataram por mim… Só que agora está muito perto! Eles não percebiam. Você percebe porque chegou a hora. Não preciso mais esperar. Fique tranquilo porque será premiado", as vozes paralelas cessaram e deixaram espaço para uma apenas, a mais terrível não só no tom e nas palavras como na força que transmitia: seria a voz do oni-dragão?
Honmaru tentou não se render, porém seu corpo não o obedecia: "Não luto mais por ninguém, não tenho senhor! Quem é você? Saia, deixe o meu corpo, seja lá que raio de espírito maligno for!"
Obteve a seguinte resposta: "Não adianta mais. O processo é irreversível. Não tenho interesse no seu corpo, mas pense na espada, que agora é uma só com a sua carne. O que um dia me selou irá me libertar! E você será recompensado, não se preocupe."
Tentou soltar a arma, o que foi em vão. "Não quero ser recompensado por nenhuma espécie de monstro!" Continuava a se mover com rapidez e violência, sem controle sobre seus próprios movimentos. Havia uma sombra às suas costas e desta saíam mãos com garras.
– Precisamos pensar em um meio de lidar com o que lá se encontra, não atacar às cegas – disse Masamune, mas o cavalo desgovernado vinha em sua direção.
– Vamos continuar pensando? – zombou um de seus amigos, que se esquivou por pouco do primeiro ataque.
O outro, entrementes, não teve a mesma sorte, pois seu peito foi perfurado pela espada amaldiçoada.
Honmaru soltou um kiai e tentou usar sua energia para se livrar da possessão, sem resultado.
– Myamoto! – O amigo sobrevivente de Masamune gritou o nome do irmão que acabara de morrer, enquanto o futuro cruzado, que também sentiu o desespero, além de tristeza e culpa por não ter pensado mais rápido – embora disfarçasse muito bem sentimentos e emoções –, usou seus braços magros e de pulsos finos para manusear suas espadas com perfeição, chocando-as contra a lâmina maligna. Pronunciou em silêncio uma oração e suas katanas assumiram a forma de uma cruz na defesa dos ataques do inimigo, que ele sabia não se tratar de Honmaru.
Seu companheiro Itaki, furioso, tentou atingir o adversário por trás, porém, no momento exato, este deu um salto inacreditável e se esquivou, reaparecendo às suas costas.
– Não! – Masamune, pela primeira vez, perdeu o controle de si, não havendo como frear seu próprio ataque, que acabou por acertar o amigo.
A espada de Itaki se limitou a ferir-lhe o ombro, enquanto as suas cortaram o abdômen e o pescoço do outro. Na mesma hora, o futuro cruzado largou as armas.
"Isso não tem cabimento! Não sou um assassino." Honmaru continuava em seu conflito interno e recuou. "Não, você não vai me vencer! Perdoe-me, Keiko…"
A voz maligna martelou em sua cabeça: "Você é só um ser humano! Não pode fazer nada para me deter!" Mas Honmaru não iria se curvar: "Eu posso. Eu posso sim. Afinal, a vida é minha!" Nem mesmo o demônio da espada esperava que o ronin fosse cometer harakiri. Bastou um segundo para Honmaru tirar proveito da excessiva confiança da entidade das trevas e atravessar o próprio ventre com a lâmina amaldiçoada.
– Deus, concedei-me o vosso perdão – balbuciou Masamune, paralisado no meio de um bairro que minutos antes estivera repleto de alegria e movimento e agora apresentava cadáveres por todos os cantos, o samurai o único vivo fora das casas. Movia-se somente para se afastar do corpo de seu amigo.
"Seu idiota! Seu imbecil!" O ronin expirou e só então o demônio parou de proferir insultos contra ele. O sangue que manchava a escuridão desapareceu para dar lugar a um breu total, seu espírito livre; e em silêncio. Inalcançável para o inimigo.
Já no interior de Masamune, pulsavam medos e recordações. Aqueles dois, ainda que fossem muito diferentes dele, haviam se tornado sua família, seus irmãos, desde a morte de seus pais, quando contava sete anos e, apesar de pertencer a uma linhagem nobre, a sua era uma família definhada, sem outros ramos. Era o último de sua estirpe, pois seu pai fora filho único. Precisara ser criado por uma família amiga, a de Myamoto e Itaki, pelos quais não pudera fazer nada, ou pior: não impedira a morte de um e ainda matara o outro. Como voltaria para casa? Por mais que os pais dos amigos o considerassem um filho também, teria o mesmo valor de Myamoto e Itaki?
Não matara o segundo por querer. Não o assassinara; mas matara. E não escaparia dessa sina. Com que cara voltaria para a família que tão bem o acolhera?
Contemplou a espada maldita, cravada naquele atormentado samurai errante. A culpa era da espada. Ou não? Como uma arma podia ter a culpa, se são sempre os homens que manejam as armas?
Aquela era, entretanto, com sua empunhadura tão ameaçadora quanto a lâmina, uma espada diferente: apenas um ignorante não compreenderia.
Pensou se não seria melhor se tornar um ronin ou cometer seppuku. Levou alguns instantes refletindo, até concluir que era sua obrigação apanhar aquela espada. Sem tocá-la com o coração. Serenou a mente, rezando a Deus pelas almas dos amigos e para ser perdoado. As garras não o feriram e suas mãos não sangraram como se dera no caso de Honmaru.
"Serei um ronin para compreender esse mistério", deixou no chão suas espadas, as mesmas que haviam levado Itaki à morte, e abandonou o bairro, que ainda não recuperara o movimento, com a lâmina do oni-dragão embainhada na cintura.
Por semanas permaneceu afastado das cidades, entre florestas, cavernas e montanhas, sem o menor contato humano. Limitava-se a raciocinar sobre o que ocorrera e poderia ocorrer. Examinou cada possibilidade, e nenhuma voz externa o afligia. Tomou a decisão de levar aquela espada a algum templo, onde seria examinada por um sacerdote entendido. Precisava tomar coragem para tanto. E talvez devesse se confessar.
"A minha alma e o meu corpo estão imundos." Estava já fazia dias sem tomar banho. Tirou as roupas e se lavou em uma cachoeira.
Ao sair das águas, um texugo passou à sua frente, desaparecendo sem deixar rastros. No mato, não havia mais nenhum movimento, nem pegadas. Tratara-se de um fantasma ou de uma ilusão?
Rumou para um dos novos templos das cercanias, uma pagoda branca por inteiro, encimada por uma cruz e contando com duas estátuas de dragões ao lado de seus toriis. Seu jardim era amplo e belo e ali viviam monges que se dizia serem especializados no estudo de possessões demoníacas, que talvez pudessem ajudá-lo.
Também se sentia culpado pela morte de Myamoto, por mais que sua intenção tivesse sido a de protegê-lo, pois sabia que o amigo, ainda que se esforçasse nos treinamentos, não era um grande guerreiro. Se tivessem atacado, em vez de ficarem estudando o inimigo e aguardando sua investida, o resultado teria sido diferente? Provavelmente não: a força da espada era de fato superior e talvez apenas tivessem sido outros os mortos. Sobreveio um calafrio; a consciência não era capaz de aplacar o coração.
Continuavam vivas em sua memória as breves tardes jogando beigoma. Breves porque passavam rápido demais, e naquelas disputas era difícil Myamoto sair derrotado. Era o que conseguia fazer seu pião girar por mais tempo, seguido pelo de Masamune. Itaki ficava irritado quando o seu não tardava a cair.
Já no Daruma-san ga koronda, Masamune era imbatível, quase nunca sendo percebido – o objetivo do jogo se aproximar ao máximo do pegador enquanto se pronunciava a frase que significava "o boneco Daruma tropeçou" – e, desde pequeno o mais sensitivo, percebendo com facilidade os que dele se aproximavam.
Aquelas eram boas recordações, que o levavam a sorrir, seus sorrisos, contudo, já rareando cada vez mais. Gostava também dos jogos com os otedama, saquinhos coloridos feitos com pedaços de pano velho preenchidos, em geral, com feijões azuki. Entre estes, preferia os jogos solitários, jogando os saquinhos de lá para cá, mas que não eram de todo solitários, na verdade, porque seus amigos costumavam observá-lo, admirados com sua habilidade.
Com as meninas não gostava lá muito de brincar, por ser tímido demais. Às vezes entrava no Hanaichimonne5 e tentava se soltar ao mesmo tempo que cantarolava, depois admirado consigo mesmo por ter sobrevivido àquela provação. Mas isso já fazia anos.
– Fico admirado que ainda esteja vivo. Ou que não esteja banhado em sangue.
No templo, encontrou-se com um ocidental que estava de visita, um homem simpático, de barba espessa – à época ainda escura –, sempre sem bigode, magro, porém pançudo.
Vestia uma batina vermelha e examinou a espada com olhar atento. Era o cardeal Celius:
– Esta espada foi feita para selar o demônio Baal, um dos reis do Inferno, mas saiu do controle do próprio monge guerreiro que a forjou, de modo que seu uso sempre traz efeitos colaterais: todos os homens que a empunham acabam sendo corrompidos. Baal é o oni-dragão, e não entendo como você parece ter passado ileso ao tocá-la. É realmente impressionante.
– O que isso quer dizer?
– Que você é incorruptível.
– Isso não pode ser. Apenas, depois de sentir o ki maligno emanando da espada, decidi não empunhá-la com o coração, somente com as mãos. Estou longe de ser perfeito. Inclusive… – Pensou em confessar a forma como seus amigos tinham morrido, mas parou no meio do caminho.
– Inclusive o quê?
– Acho que preciso me confessar.
– Se quiser, pode ser comigo, rapaz. – Encaminharam-se para uma área reservada; e após Masamune relatar em detalhes o que ocorrera, o sacerdote manifestou sua opinião: – A prova de que você é bom é que sente culpa mesmo não sendo responsável pelo que ocorreu. O demônio foi o culpado. Você pode ter cometido falhas, ter se equivocado ao tomar decisões, mas isso não se deve à falta de virtude, e sim ao simples fato de ser humano, e como tal imperfeito. Não se cobre tanto, filho! Deus é o único que não erra. Quanto a nós, somos todos falíveis. Reze dez pais-nossos e dez ave-marias e depois volte para falar comigo. – Foi o que o samurai fez. Ao retornar, ouviu do cardeal: – O mundo está infestado pela heresia e pelos demônios. Não é apenas no Cipango que isso acontece. Se for para o Ocidente, verá isso com clareza. Eu lhe faço um convite, meu rapaz: por não ter sido corrompido pela espada de Baal, que agora guardará aqui, acho que não há alma mais apropriada no momento para almejar um posto de purificador do mundo. Já ouviu falar dos cruzados, ou não?
– Claro. Os caçadores de demônios da santa Igreja.
– Primeiro, você será observado por meus irmãos. Porém acredito que não terá problemas para ser aceito. Depois, uma vez que for admitido como um, treinado. E tenho a intuição que não demorará a estar pronto, que será um dos melhores homens na guerra contra o Inferno. Mas, é claro, apenas se desejar isso...
– Vossa Eminência me pegou de surpresa. Queria apenas compreender o mistério da espada que de alguma forma levou as almas dos meus amigos e me confessar por não ter podido salvá-los.
– Salvará muitas outras almas se tornando um cruzado. Muitos como você não perderão amigos e irmãos: graças à sua espada e à sua virtude, potencializada pelo sangue de Cristo.
O coração de Masamune começou a bater com mais força e velocidade. Que decisão tomar? Para casa já estava decidido que não voltaria. Um ronin cruzado? Seria digno de tamanha honra?
Recuperaria a honra. Não por acaso estava sendo convidado pelo cardeal Celius. Deus lhe estendia a mão, uma nova oportunidade estava disponível. Jogaria fora essa cruz-espada ou a seguraria com firmeza? Sofrimento, morte, martírio, vida, missão, provação, virtude, dever, oportunidade, pecado, necessidade, auxílio, salvação, dádiva: estas palavras e outras, acompanhadas pela imaginação e por memórias, invadiam seu espírito. Não tinha o direito de ficar parado.
Pediu um tempo a Celius, apesar de estar ciente de que não modificaria sua resposta. O tempo se devia a outras razões, para rezar e acumular as forças necessárias.
No dia em que disse sim, pouco antes do cardeal regressar para o Ocidente, confirmou para si uma alegria dificultosa. Em silêncio, podia dizer que estava feliz.
Perdoara-se pelo que ocorrera a Itaki e Myamoto? Isso não era certo. Só que ao menos acreditava que faria parte de uma família maior e a melancolia e a desilusão ainda não tinham chegado para enferrujar a cruz.
1 O torii é um portão tradicional japonês composto por dois pilares verticais, unidos no topo por uma trave horizontal (kasagi), em geral mais larga do que a distância entre os postes. Sob a kasagi, há outra trave horizontal (nuki), que une logo abaixo os dois pilares.
2 A wakizashi, também conhecida como Naga-wakizashi ou Oo-wakizashi, é uma espada curta japonesa, utilizada em conjunto com a katana pelos samurais.
3 Samurais.
4 Um instrumento japonês de três cordas.
5 Jogo japonês em que se canta enquanto se brinca, um pouco semelhante a uma ciranda.
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