Fazia muito tempo que não tinha
acesso ao luxo. Ele odiava admitir, mas agora sentia-se estranho a ele. Foram
oito anos vivendo em um quartel de treinamento, seus alojamentos eram
compartilhados e a comida muitas vezes perdia para a dos cavalos. Leon foi
muito duro em seu treinamento, mas Adrian sentia como se aquilo não tivesse
sido assim tão ruim, na verdade, em meio a suntuosidade do seu quarto de
prÃncipe, ele sentia saudades de sua cama de palha, na qual ele chorava
diariamente com saudades de casa. É a sina humana, a dor de não ter, o tédio de
possuir.
— Senhor! — alguém batia à porta.
— É você, Sarto? Pode entrar.
— Bom dia, senhor. Ele chegou.
— O velhaco?
— Ele se apresentou como Leon,
septuagésimo quinto chefe da cavalaria de Catônia, filho de Leandro, também
chamado de o Predador Branco.
— Ele mesmo, mande-o subir.
— Sim, senhor — disse Sarto enquanto
descia. Adrian estava apreensivo, não sabia exatamente o porquê, mas sentia que
a chegada de Leon traria uma grande tempestade. O velho cavaleiro estava
diferente nos últimos dias antes de sua despedida. O que quer que fosse, dizia
respeito ao seu pai, o rei Aldenor.
— Adrian, seu desgraçado — disse o
velho cavaleiro chegando no quarto. — Você tinha que se alojar no quarto mais
alto da porcaria do castelo? Meus joelhos não são mais os mesmos de dez anos
atrás.
— Mestre, eu temo que seus joelhos
não sejam mais os mesmos de ontem. Não tenho culpa, os arquitetos acreditam que
os quartos das pessoas mais importantes devem estar o mais alto possÃvel. Acho
que o único mais alto que o meu é o do meu pai.
— Arquitetos idiotas, fazem os mais
importantes andarem mais.
— Até que faz algum sentido — disse
Adrian sorrindo e apertando a mão do seu professor. — Leon, eu devo tudo a
você. Não fosse por você, eu ainda seria refém de Diógenes.
— Não me agradeça. Pelo menos, não
ainda.
— Como não agradecer ao homem que me
trouxe de volta para casa?
— Talvez você não fique feliz ao
saber o que eu trouxe junto comigo. Garoto, é tempo de conversarmos como
homens. Além de mim, chegaram outros mensageiros?
— Sim, vinte e sete homens.
Perguntaram se eu estava aqui, mas se recusaram a expor suas mensagens antes
que você chegasse.
— Isso é bom, está ocorrendo tudo
como planejado. Teremos um conselho em conjunto com seu pai. Você deve estar
presente.
— E o
que diabos esses vinte e sete mensageiros trouxeram? Meu pai não está gostando
desse suspense. Não fosse seu medo de Diógenes, ele teria mandado todos aos
calabouços. Pensei que você estava vindo pedir ajuda para achar Roderick.
— Bem. Eu posso não ter sido muito
sincero com você, Adrian. A verdade é que eu trouxe você aqui com um único
motivo: guerra.
— Guerra? — indagou o garoto
surpreso. — Contra quem? Contra o tal de Roderick?
— Não, garoto — sorriu o velho
cavaleiro. — Não estou interessado em trazer um massacre para esse paÃs.
Enfrentar Roderick seria uma loucura sem precedentes.
— Então, seria contra quem?
— Catônia.
— Catônia? O seu próprio reino? O
maldito maior poderio bélico do mundo?
— Sim.
— Acredito que meu pai não vá gostar
muito disso. Principalmente pelo fato dele ter um pavor abissal do Diógenes.
— É exatamente com isso que estou
contando — disse o cavaleiro botando a mão no ombro de Adrian. — É exatamente
por isso que fiz de tudo para te trazer até aqui. Agora, vamos descer, acredito
que o conselho já tenha se formado.
O velho cavaleiro desceu. Adrian ainda esperou
um pouco e olhou ao redor de seu quarto, vendo toda a paz que ali reinava.
Respirou fundo e aproveitou cada segundo daquela calmaria, mas concluiu que
preferia as tempestades. Desceu para enfrentar mais uma.