Quanta
luz. Sua cabeça doÃa e ela não conseguia mais olhar para a luz, no entanto, ela
insistia. Sua mãe brigava, mas ela continuava correndo pelo gramado. Ele podia
jogar o que quisesse, nenhum menino estúpido iria impedi-la. A lama era tão
densa que ela não conseguia encontrar sua irmã. E essa luz incomodava tanto,
mas ao mesmo tempo era tão agradável. Por que ela estava puxando seu ombro? Por
quê? Aquilo incomodava tanto.
— Argh
— gritou ela enquanto acordava. Suas mãos estavam amarradas. Para ser mais
exato, ela estava completamente amarrada.
—
Desculpe-me, mas não tÃnhamos muitas ervas tranquilizantes — disse Roderick
enquanto costurava o ombro da bruxa.
— Seu
desgraçado, você me amarrou?
— Bem,
não é nada que você não tenha feito conosco, mas não se preocupe, é só por
enquanto que costuro seu ombro.
— Não
preciso da sua ajuda, seu porco.
— Na
verdade, precisa sim. Você estava perdendo muito sangue e a ferida poderia
infeccionar. De todas as pessoas aqui presentes, só eu sabia estancar um
ferimento e costurá-lo adequadamente. As ervas fazem a dor diminuir, mas você
deve ficar quieta. Sei que não gosta de mim, mas faça o favor de não me ofender
novamente, não sou um porco e não permito que ninguém me chame assim.
— Não é
um porco, mas é um bandido.
—
Bandido? Eu? Foi você quem raptou minhas protegidas.
—
Raptei uma pinóia, eu as resgatei. Elas eram prisioneiras do maldito Diógenes e
você é só o cão de guarda dele.
— Moça,
minha paciência tem limites. O que está dizendo é uma tolice, elas são esposas
do rei, não suas prisioneiras.
—
Esposas? Se você não é idiota deveria saber disso. Diógenes arrebatou todas das
mãos de suas famÃlias e nem deu direito de escolha a elas. Algumas já tinham
pretendentes e outras ainda eram crianças.
— Mas
isso…
— Isso
é a mais pura verdade, cavaleiro. Eu que deveria ter sido esposa do rei, mas
minha irmã se sacrificou no meu lugar. O desgraçado nem mesmo desposa as
mulheres, só as mantêm prisioneiras naquele harém. Ele não as deseja, ele não
se importa com elas. Todos sabem que o harém só serve para te manter ocupado.
— Eu
não sabia.
— Sabia
sim, todos sabiam. Você só achava cômodo ficar cuidando daquelas mulheres
estúpidas em vez de servir ao desgraçado do Diógenes. Você, tanto quanto todos
os outros, não se importa com elas.
— Isso
não é verdade — respondeu o cavaleiro ofendido.
— Você
nem mesmo sabe quem são elas ou mesmo seus nomes — falou a bruxa com desdém.
—
Alzira me disse que é sua irmã, ela é engraçada e gosta de contar história para
as outras; Geneva é a que mais gosta de ouvir histórias, principalmente as que
envolvem princesas guerreiras; Juliana não gosta de histórias, prefere se
maquiar e maquiar as outras; Saphira é uma mulher culta e agradável, passa todo
o tempo livre lendo; Fiona me pedia aulas sobre como cavalgar; Marla queria aprender
a lutar com espadas; Larissa gosta de cantar e compor canções; Zahra cozinha
muito bem e está sempre querendo inovar na cozinha; Cecilia é preguiçosa, mas é
sempre uma boa ouvinte e amiga; Halima gosta de dançar e o faz muito bem; Shiv
é tão alta quanto eu e tem muito orgulho disso, ela joga perfeitamente qualquer
coisa que envolva cartas; Philippa é a mais…
— Sim, cavaleiro, eu entendi seu
ponto, então você conhece o nome das suas cativas.
— Prefiro chamá-las de minha
protegidas e eu não sei apenas seus nomes, mas conheço todas, são amigas que
estimo e faria de tudo para vê-las bem. Quem eu não conheço é você.
Roderick terminou a costura e soltou
a bruxa. Ela ainda estava um pouco aturdida pelas ervas.
— Por muito tempo eu tenho te
chamado de Sombra Negra, sem saber de quem se tratava. Qual é seu verdadeiro
nome, jovem bruxa?
— Eu? — indagou retoricamente ela.
Seu ombro doÃa e ela não se sentia confortável diante daquele homem que tanto
odiava, ou queria odiar. Pensou em não responder, mas olhou bem para ele.
Parecia uma pessoa sincera, seu rosto era agradável e ele tinha um jeito
aprazÃvel. Aquilo a incomodava sobremaneira. Preferia odiá-lo. Queria odiá-lo.
Tinha o direito a odiá-lo. Não era justo ele ser agradável. Resolveu responder:
— Agatha. Meu nome é Agatha.
— Bem, Agatha, você vai ter muito o
que me explicar em relação ao rapto. Prometo que farei de tudo para que o
melhor aconteça com elas.
O cavaleiro sorria. Agatha teve raiva porque
também queria sorrir, mas, principalmente, porque acreditava nele.