Nunca, em nenhum momento da sua
vida, Diógenes esteve legitimamente feliz. Sempre fora tratado como um bastardo
e o desprezo para com ele estava estampado na cara das pessoas com as quais ele
convivia de forma indelével. Ele nunca sentiu nada, nem sequer parecido, do que
chamam de amor. Já sentiu prazer, alegria e satisfação, mas ninguém poderia
chamá-lo de um homem feliz. Sua infância desprezada, sua adolescência de
ofensas e escárnios, e o seu reinado de medo. Nada na vida dele já o trouxe
alegria. No entanto, agora que ele ouvira de Magog que havia a possibilidade de
destruir Roderick, ele se regozijava com a simples chance de se tornar real.
Esse era o seu estado de espÃrito em mais uma reunião com seus três aliados.
— Adiante, cães — esbravejou o rei
animado. — O que temos até o momento?
— Deixem-me falar — solicitou
Eduardo. — O paradeiro das mulheres, já descobri com toda a certeza. Elas estão
em uma floresta, em um reino vizinho.
— E como você sabe disso? — indagou
Diógenes.
— Eu apenas o sei, se eu começar a
dizer como sei de tudo que sei, logo torno-me inútil para vocês.
— Realmente, não gosto de pessoas
inúteis — disse o rei com um sorriso sardônico.
— Ninguém gosta e eu pretendo
continuar fazendo com que gostem de mim. O paradeiro delas é certo, com certeza
Roderick deve estar indo para lá. Ou mesmo já está lá.
— O cavalo de Roderick fugiu de meus
homens — disse Câncer. — Um pássaro o assustou e ele bateu em retirada. Creio
que foi para essa mesma floresta da qual você fala.
— Vocês não eram os maiores
assassinos de todos os tempos? — perguntou o rei. — Então não conseguem tomar
conta de um cavalo?
— Não gosto de seu sarcasmo e sabe
muito bem que não sou seu amigo. Não era nossa tarefa cuidar do cavalo. Nossa
tarefa é matar Roderick, Paulo e Valentim. Somente por isso nos aliamos a
vocês. Guardamos o cavalo apenas para adquirir informações. Além do mais, tenho
certeza que nenhum de seus homens poderia ter segurado aquele animal.
— A única certeza que temos é que
nenhum dos seus pôde — concluiu Diógenes de maneira cÃnica. — Não se preocupe,
assassino, se o que Magog prometeu for verdade, logo teremos a cabeça desses
três e vocês não terão mais que negociar conosco.
— O ritual é possÃvel — falou Magog
—, já iniciei os preparativos. No entanto, seu povo deve sofrer. A alma de
inocentes em dor trará muito mais poder do que vocês podem imaginar.
— Já começamos — disse o rei. —
Estamos tomando crianças, destruindo lares e estuprando virgens nas ruas. Em
breve, todo o reino estará em caos. Mas devemos concluir isso o mais rápido
possÃvel, se Roderick voltar a paz do reino não estiver prosperando, ele se
verá livre do seu juramento de me proteger e nós todos morreremos.
— Um mês, é tudo o que preciso para
concluir o ritual. Depois disso, a alma dos habitantes desse reino estará em
nossa posse e você se tornará a criatura mais poderosa do universo.
— Devemos tomar cuidado nesse
perÃodo — sugeriu Eduardo. — Ouvi relatos de que já estão planejando uma
insurreição contra você, Diógenes. Uma reunião secreta de vários reinos
inimigos se organizou em Viseu.
— E o que tem isso? — quis saber
Diógenes.
— Se formos atacados por uma
coligação de inimigos enquanto enfraquecemos o reino, podemos perder a cabeça
antes mesmo que Roderick volte.
— Qual a chance de isso ser verdade?
— indagou Diógenes com desconfiança.
— Absoluta verdade. Tenho um aliado
no reino, devemos abafar essa rebelião antes que ela se fortaleça.
— Eu posso ajudar — concluiu Câncer.
— Meus homens estão sedentos por sangue e abafar essa coligação pode os
acalmar.
— Então está decidido. Magog acelera
o ritual; Eduardo apura as informações sobre a rebelião; e vocês, assassinos,
tratam de destruÃ-la. Tudo pronto para completarmos os nossos desejos, seus
cães.
— Não será tão simples — atalhou
Magog. — Ainda há algo que preciso fazer para que eu tenha todo o conhecimento
para o ritual.
— Como assim? — gritou Diógenes. —
Você me fez crer que já estava tudo pronto, demônio.
— Quase tudo. Para que eu entenda a
real natureza do ritual, preciso voltar ao ponto onde ele iniciou.
— Como assim, canalha? — indagou
Diógenes, visivelmente enfurecido.
— Devo voltar ao inÃcio de Catônia,
quero aprender diretamente com Eli Roderick.